sábado, 1 de novembro de 2014

SER CEGO - 2a. PARTE

"Em terra de cego quem tem um olho é rei".
Em 2003 fui trocar meus óculos e para minha surpresa e de toda minha família eu teria que fazer um re-transplante no olho direito.
Foi uma consulta rápida sem maiores explicações. O fato concreto era que eu estava com uma úlcera de córnea. O HGF há muito tempo tinha deixado de fazer transplantes de córnea, e agora?
Por indicação de uma médica amiga da minha família procurei o médico doutor Francisco Waldo Pessoa de Almeida, no Instituto dos Cegos como ainda hoje é conhecido.
De repente o passado voltava, fui encaminhada para uma fila de espera na Central de Transplantes  da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.
Minha vida deu uma reviravolta de 360 graus, novamente minha visão foi ficando comprometida numa velocidade galopante sem contar com as dores que era acometida, ou seja, havia uma ferida no meu olho.
Em janeiro/04 tive uma crise de dores terríveis então fui a clínica para ser novamente examinada pelo doutor Waldo. Nesse dia ele falou para minha filha:
- Veja a minha situação, são grandes as dores que sua mãe está sentindo e eu, só tenho uma córnea no Banco de Olhos. Eu acabei de receber uma criança vinda do interior que sofreu um acidente, estou num dilema sua mãe precisa ser operada com urgência mais a criança também.
Então ele prescreveu uns colírios e me colocou numa lista de espera com urgência na Central de Transplantes.
No dia 17 de fevereiro de 2004 fui re-transplantada. Entrei no centro cirúrgico sem saber que minha irmã Lúcia, que me acompanhava, tinha sido avisada que eu corria um sério risco, se o transplante não desse certo meu olho tinha que ser eviscerado.
Acompanhei todo procedimento acordada. Durante toda cirurgia ouvia-se uma música clássica no centro cirúrgico. Ouvi quando o doutor Waldo falou:
- Posicione a câmara pois iremos filmar.
A anestesista sussurrou no meu ouvido que iria aplicar uma medicação pois minha pressão arterial estava muito alta.
Depois daquele transplante minha vida mudou. Ficava horas e horas em repouso absoluto. O ano de 2004 ficou marcado na minha vida, eram idas e vindas a clínica e ao hospital para retirada de pontos, que não eram retirados devido a fragilidade do olho.  Meu olho era vermelho e até meu rosto era inchado. Comecei a usar óculos escuros, inclusive a noite.
A visão do olho esquerdo também estava comprometida devido a uma catarata e o astigmatismo incontrolável que devido a tudo isso me impedia de usar óculos de graus.
Em novembro/05 recebi o diagnóstico que o re-transplante sofrera uma rejeição e não havia mais nenhuma condição de se tentar fazer algum outro procedimento cirúrgico, meu nervo óptico estava muito comprometido.
Depois de mais de 30 anos eu voltava a ficar CEGA.
Em janeiro de 2006 ...

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