Numa ensolarada manhã, não lembro o mês,
era o ano de mil novecentos e noventa quatro,
quando conheci você, o vi chamar pela primeira vez.
Ouvi alguém chamar de Peixe, outro falou:
Pera aí motorista! Outro disse: - Siqueira!
Captei seu olhar, me espantei, fingi, ignorei.
O momento era difícil, complicado para mim.
não tinha cabeça para pensar em amor.
Mais passei a esperar todo dia com ansiedade,
aquele horário, o momento em que descia,
e sentia seu olhar de homem, um companheiro?
ou até um marido, perguntava em meu íntimo.
Um dia esperei você não veio,
outro dirigia o cento dezenove.
Imediatamente minha mente foi tomada pelo desânimo,
tinha sido apenas uma ilusão passageira, um sonho.
Mas você voltou, meu coração pulou de alegria,
você sorria, falou algo sobre a multidão, não escutei,
fiquei tímida, envergonhada, mas era real.
Pegou pelo meu braço e atravessamos o pátio do Terminal
do Antonio Bezerra e subi pela frente do cento e dezenove.
Lá no meu lugar fui perdendo você de vista, pois
a multidão engoliu sua figura, a condução parou muitas e
muitas vezes, até chegarmos a BR cento e dezesseis.
Faltava apenas três paradas, meu coração batia forte.
Ao descer disse; Muito obrigada.
Você respondeu:
-Até amanhã!
Foram muitas manhãs, e muitas noites também.
Dias de cumplicidade, outros de discussão.
Havia encontros e desencontros de idéias.
Momentos inesquecíveis, mas outros que foram
marcados pela dor das palavras, gestos inesperados.
Andamos de mãos dadas em jardins suspensos,
brincamos, você de bolha de sabão e eu menina de amarelinha.
Esquadrinhamos os espaços siderais, submergimos em mares,
remamos em barcos, viajamos em pipas coloridas.
Por alguns fomos aceitos e amados, odiados e humilhados,
pisamos em charcos fétidos, caminhamos em campinas.
Você me deu estrelas e eu lhe dei o astro Rei.
Tivemos intimo contato com a Primavera que enfeitou
com flores nossa passagem, no Verão nossos pés
foram aquecidos pelo calor, e no Inverno nossas mãos
frias pela fonte de calor do nosso Amor.
Até que um dia subimos numa montanha russa,
andamos em círculos sem rumo, sem destino certo,
então descemos numa vertiginosa queda,
descarrilhamos sem freios, o medo nos dominou.
E nossa união ao chegar ao ápice, desmoronou
numa descida tão surpreendente,
que de tão parecidos que éramos, ficamos estranhos.
Deixamos de falar a mesma linguagem, os gestos,
a compreensão, os afagos, nossa intimidade,
desarticulou em palavras sem sentido, sem emoção.
Noutra manhã ensolarada, o mês lembro perfeitamente,
março de dois mil e cinco, me despedi de você.
Seus lábios tocaram os meus com ternura, o som fugiu
de sua garganta, um aperto no peito, uma ferida,
nesse exato momento estava sendo aberta.
Será acharíamos o antídoto, o remédio?
Como íamos puxar a espada da dor que,
vazava nosso peito, onde o sangue escorria
através de lágrimas que invadia e
inundava nossos corações.
Você caminhou de mansinho, seus passos eram indecisos,
esperou um último apelo, um pedido de: - "Não vá!" Volte!
Sua fisionomia, sua silhueta desapareceu
do meu foco visual e nunca mais o vi!
Uma chuva matutina caia, era sete e trinta da manhã,
o mês era de junho, o ano dois mil e nove e a
data essa nunca esquecerei:
vinte oito de junho de dois mil e nove.
O telefone toca: - Quem será , tão cedo da manhã.
Atendo sem emoção e nenhum entusiasmo.
A notícia veio rápida através de um fio, uma voz
trêmula, indecisa, com rodeios,
que não sabia e nunca saberá, tocou na chaga,
na ferida, uma fonte de amargura transbordou.
Valderi Siqueira dos Santos, está morto!
Fui pessoalmente lhe dizer: - Adeus meu amor!
Fui agradecer a Deus ao lado do seu corpo inerte,
os bons e maus momentos, as tristezas e alegrias.
E hoje escrevo para marcar nossos sentimentos,
e deixar bem claro para humanidade, para posteridade que,
o Encontro e Desencontro, pincelou nossas vidas e,
coloriu nossa história de Amor!
Fátima Silva
29/06/09
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