quarta-feira, 29 de outubro de 2014

BRINCANDO COM AS LETRAS

Irei brincar com as LETRAS DO ALFABETO.
Elas estão na minha frente dançando, pulando de alegria.
Algumas estão chorando, são lágrimas de tristeza, luto.
Outras por um amor perdido ou uma notícia através de um e-mail, quem sabe uma carta...
Elas estão nos olhos da crianças ao verem Papai Noel, onde o sorriso nos lábios expressa contentamento.
Nas pessoas que passam apressadas num sinal para pedestres.
Estão na marca dos sapatos  polidos, nas sandálias de salto fino e no tênis desgastado a procura de um emprego.
LETRAS que brilham no ofuscar das estrelas, no relâmpago, na chuva inesperada.
O Sol irradia raios e lá estão elas a contemplá-lo, cruzando os mares, subindo as montanhas, nas campinas e no ribombar do trovão.
Um choro se escuta na maternidade, é mais uma vida.
As LETRAS saem correndo para que possam chamá-lo:
- Meu filho!
Na casa velha, na mansão, nos condomínios de luxo, nas favelas, na igreja e na escola, nos hospitais, nos hospícios, nos presídios.
São LETRAS legíveis, rabiscadas, incorretas, gráficas ou computadorizadas.
Nos cemitérios elas aparecem nas lápides pintadas de preto, mais não podem deixar de ir dar seu adeus àquele que tantas as usou.
No baile de fantasias, nos cultos, nas missas, nas feiras, nas lojas, nos restaurantes, conventos, asilos...
As vezes são crianças, coloridas, fluentes, mas há casos como os surdos...
E agora?
Que faço com minha brincadeira?
As LETRAS dão uma boa gargalhada.
- Não seja boba estamos em todos os lugares e enfrentamos qualquer situação, eles tem sua linguagem que se chama LIBRAS.
E ia me esquecendo dos cegos que escrevem em BRAILLE;
Os tetraplégicos buscam se expressar  com os olhos e precisam de uma certa urgência dizer:
- Está tudo bem!
Psiu! Segure em suas mãos  e ele vai lhe responder.
O poeta coloca o coração na poesia, o compositor lembra seu amor perdido na escuridão da noite fria e o louco faz parceria com o vento e as leva pata além do horizonte.
A mãe olha a foto do filho que morreu, lágrimas que escrevem saudades.
Palavras sábias, tolas, críticas, outras escritas  em documentos que atravessam épocas, raças, costumes, credos e línguas.
Lá estão ela brilhando como gotas de orvalho .
Oh! que lindo crepúsculo, que noite estrelada, que dia maravilhoso.
Para terminar minha brincadeira com as LETRAS faço um pedido.
Me deem as mãos e prometam que de vez em quando iremos brincar  com as SÍLABAS, as VOGAIS e as CONSOANTES.
Para minhas amiguinhas faço pose e me despeço dizendo:
- Até logo, ALFABETO!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

SER CEGO - 1a PARTE

Diz o ditado popular "que o pior cego é aquele que não quer enxergar".
Desde criança sempre tive problemas de visão, e por conta disso passei a usar óculos de grau com 12 anos. Aos 15 anos veio o terrível diagnóstico: CERATOCONE, ou seja, má formação da córnea. 
No meu caso já era necessário transplantar as duas córneas.
E o pior de tudo, aqui em Fortaleza não havia Banco de Olhos. Esses casos eram encaminhados para a região Sudeste do Brasil, São Paulo ou Belo Horizonte. 
Minha família não tinha recursos, meu pai até tentou vender uma casa que tínhamos para viajar comigo mais vendo as dificuldades que iríamos passar, desistiu.
Ainda me consultei com alguns médicos e aos poucos fui me conformando com a cegueira que se aproximava.
As imagens de longe foram desaparecendo do meu campo visual sem contar com a coceira e um eterno lacrimejamento nos olhos.
Deixei de estudar porque não enxergava o quadro negro, hoje verde.
Passei a sair somente acompanhado por meus pais ou irmãos.
Mesmo assim eu lia muito com o rosto colado nas páginas dos livros ou revistas. Sentia muitas dores de cabeça e um grande desconforto nos olhos.
Os anos passaram até o dia que ouvi no rádio que ia ser inaugurado um hospital de grande porte em Fortaleza: Hospital Geral de Fortaleza.
Pedi a minha mãe para ir até lá, pois o Serviço Social já estava fazendo uma triagem nos casos de cirurgia.
Portando o meu atestado médico, me dirigi até lá, e fui atendida pelo oftalmologista Valter Justa que se interessou pelo meu caso.
Ele me falou: - Vamos implantar um Banco de Olhos no HGF e você será uma das primeiras a ser transplantada aqui no Ceará.
Então no dia 10 de Janeiro de 1973, fui submetida ao 1o. transplante de córnea no Ceará.
No segundo dia já via os rostos dos meus pais assim como, os objetos de higiene pessoal, minhas roupas, sapatos...
Aos 22 anos eu voltava a enxergar.
Em 1976 fiz o segundo transplante, aos 25 anos reiniciei os estudos. Em 1978 minha carteira profissional foi assinada pela 1a. vez como auxiliar de escritório.
A partir daí passei a ter uma vida normal somente indo ao oftalmologista apenas para a troca dos óculos de grau.
Mas em 2003 ...
Aguarde!

sábado, 25 de outubro de 2014

GOTA OU PINGO?

Gotas de orvalho estão sobre a flor enquanto                                                                                               pingos de chuva caem sobre a terra.
O chuveiro jorra gotas de água que lavam o corpo.
A goteira lateja pingos de chuva  no chão,                                                                                                 enquanto o colírio pinga no olho.
O enfermo toma pingos de soro,                                                                                                             e o cafezinho é adoçado com gotas de adoçante.
Nasce um pingo de gente que toma uma gota de vacina.
O pingo de suco mancha a toalha,                                                                                                                 a gota d'água enche o tonel.
A lágrima é gota que inunda o rosto,                                                                                                         pequena porção é um pingo.
Gota é doença e pingo é nome dado a cavalo.
Um pingo de tinta descreve as gotas que pingam no rosto suado.
A torneira pinga a água.                                                                                                                               A chaga aberta mostra o pingo de sangue.
As lágrimas escorrem as lágrimas que respingam
no meu avental.                                                                                                                                         Um pingo se torna em átomo invisível.
Os rios são gotas de lágrimas da Lua,                                                                                                           e os mares são gotas do suor dos amantes,
que inundam e exalam os pingos e as gotas dos pingos nos is.
Onde
o pingo é acento de ponto final.

Fátima Silva
29.11.10

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

SONHOS

Visualizo uma caixa, ou uma cesta
ornamentada de cetim talvez com verniz dourado.
Está forrada com pedaços de uma nuvem ou será
veludo onde foram bordadas estrelas que cintilam
ofuscando nosso olhar humano.

Numa janela vê-se pingos de uma chuva passageira.
E o sopro com discrição de um vento
que balança a roseira e suas folhas.
O Sol abre um pequeno espaço para soltar
seus raios refulgentes.

Sonhos, tão palpáveis alguns inatingíveis
tudo por conta dessa nossa descrença
com gosto de mormaço ou quem sabe até preguiça.
De sair das tais zonas de conforto
e correr, sem medo do amanhã.

Abro minha caixa e coloco sorrisos, muitos abraços.
Um montão de beijos, carícias, muito amor.
Umas boas gargalhadas, gritinhos de euforia.
Lavo o rosto, solto os cabelos ao vento.
Subo nas asas dos meus sonhos
que são içados pelo barco da esperança.


sábado, 18 de outubro de 2014

O TRÂNSITO E O CADEIRANTE


Quase todos os dias ando de transporte coletivo.
Por conta disso, escuto e vejo cenas hilárias, grotescas, engraçadas e outras vezes uso do artífice de me "distrair" ou conversar com meus botões.
Acho que a maioria das pessoas que usam coletivos gostam de sentar no banco da janela, alguns ligam seus celulares e com fones no ouvido escutam suas músicas prediletas.
Outras cochilam e também tem aquele passageiro que gosta de conversar, às vezes falam tanto que nem notam a cara de aborrecimento do parceiro de poltrona.
Outro dia embarquei em um transporte coletivo no Terminal do Antonio Bezerra e apesar do horário, 14 horas, sentei em lugar perto da porta dianteira do ônibus.
O motorista ouvia músicas evangélicas e ouvi várias pessoas reclamando da demora do ônibus, outros comentavam sobre o intenso calor que assola nossa bela cidade de Fortaleza.
O ônibus seguiu sua rota subiu o viaduto e depois desceu, já  na avenida Mister Hull. Dali começaram a descer e subir passageiros.
Como estava sentada bem na frente do transporte vi numa parada  de ônibus algumas pessoas fazendo sinal para o coletivo  Elas subiram rapidamente assim como o coletivo seguiu seu trajeto com rapidez.
A parada ficava em frente a Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Ceará.
Numa fração de minutos vi na parada de ônibus um homem numa cadeira de rodas, ele ficou sozinho, talvez a espera de um transporte acessível.
Era um homem jovem, talvez 30 anos, calças jeans, camisa xadrez, sapatos preto.
Os cabelos bem cortado e penteado.                                                                                 Um cidadão, um homem comum, um ser humano mais... cadeirante.
Sua cadeira estava abaixo do meio fio pois não tinha rampa na calçada onde ficava a parada.
Numa tarde sob sol escaldante pude constatar a indiferença, o desrespeito a pessoa deficiente.
Os carros e ônibus passavam em alta velocidade, indiferentes a uma situação que para a maioria das pessoas não lhe dizem respeito. Talvez alguém pensou ou até comentou:
- Coitado desse homem "preso" nessa cadeira de rodas.
Ou outro comentou:
-  Não sei porque uma pessoa "aleijada" sai de casa de sozinho.
Aquela imagem ficou gravada na minha memória.
Eu ia para o Instituto dos Cegos e ao descer do coletivo me encontrei com meus  colegas empunhando suas bengalas...
Então pensei:
- Quantos deles não ficaram em suas paradas esperando ajuda?



terça-feira, 14 de outubro de 2014

O PROFESSOR E ALASAC

O nome da nossa academia tem por nome ALASAC
inicia com a letra A, que podemos exclamar: Ave Maria minha gente              
de onde saiu tanto talento escrito com apenas seis letras.
E para não perder o mote  lhe respondo prontamente,
isso veio do Aconchego, Acolhida e por aí vai
o que recebe a pessoa cega ao vir parar nessa Escola.

E lá vem a letra L  das Lutas do dia-a-dia
que a pessoa cega enfrenta logo ao sair de casa.
Mais chegando a essa Escola encontramos Liberdade
de sonhar com um mundo mais acessível,
sem contar com a Lição que levamos para casa
de nossos professores.


Lá vem de novo os acadêmicos com a letra A.
Que para nós pessoas cegas  se enquadra na Abnegação.
Do corpo docente dessa Escola.
Só os santos tem esse sentimento.
E eu posso ver através da minha baixa visão.
Uma AUREOLA coroando a cabeça  de todos eles.


Aproveitamos o S da Sociedade dos cegos.
Também escrevemos com S o SABER que são passados
aos alunos dessa Escola.
Das crianças , aos jovens e também para os adultos.
E de lambuja eles aprendem com os velhos da terceira idade.
A SABEDORIA da vida que não se aprende em Escola.


A ALASAC já faz história no Instituto Hélio Góes.
E seus 28 membros  cada qual mais talentoso.
Escrevem, leem e gritam alto  para seus mestres.
Que com AMOR ele nos iguala a cidadania social.
Pois já que o AMOR move montanha.
Temos uma montanha de AMOR.


A ALASAC e SAC se juntam nesse dia.
Para homenagear nossos professores.
E vamos fazer uma CIRANDA.
Para mostrar nosso CARINHO.
E dizer para vocês que o cego  não vê o CÉU,
mais com CARINHO pode lhe dá até o sol.

 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DECEPÇÃO

Meus olhos marejam de lágrimas.
Elas teimam e terminam escorrendo
sobre o meu rosto.
Ouço o barulho da vida lá fora
de minha janela.
Corro às pressas a procura de 
meu sorriso, que por 
instantes deixei-o largado
lá num cantinho dos meus pensamentos.
Coloco um véu  sobre a tristeza 
que teima em aparecer
no meu rosto já sofrido por tantas
decepções.
Abro os lábios num sorriso
que esconde a ferida aberta
no coração.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SOBRE O ESCRITOR...

As algemas aprisionaram dentro do
casulo o cerne do escritor.
O cubículo sem cores da cela foi testemunha
das viagens pelo mundo da leitura.
Visitou outras galáxias, viu estrelas a olho nu.
As letras tinham sabores doces,
outras penetravam na carne e gotas de suor
escorriam na mente livre.
Livre de culpas, pecados ou,
transgressões penais.
Os píncaros das montanhas  cercados de vívidas  florestas
e rios caudalosos se encontravam.
Relvas espessas repletas de flores matinais.
...
De volta no túnel do tempo tem diante de si:
Papel e caneta.
Rabisca a folha branca  e as letras saltam dançando
como bailarinas formando textos e contextos.
Copia no PC com dedos ágeis temendo que as ideias,
fujam de dentro de sua cidadela,
do entorno, do contorno do seu coração.
Livre como o vento que sopra a tardinha.
Ideias, questões a serem debatidas em palcos,
púlpitos de aprendizado,
mestrado na vida,
doutorado na arte de ler e escrever.

Escrevi esse perfil para o meu amigo escritor  Luiz Alberto Mendes Junior, paulistano, cumpriu pena por  mais de 30 anos em prisões do estado.  É autor de "Memórias de um Sobrevivente", "Cela Forte", "Às Cegas" e "Desconforto" . Também é colunista da Revista Trip.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

DEVANEIOS DA CORRUPÇÃO

O Brasil se encontra em um devaneio de corrupção , esperando que algo aconteça para mudar essa realidade.
Será que muda? Ou é apenas um sonho para nós brasileiros?
Hoje nossa realidade é esta;                                                                                                                 Alto índice de criminalidade.                                                                                                               Escolas, hospitais desestruturados para o atendimento ao público.
E o que que fazem os que estão no comando?
Falam das exportações e importações que acontecem para iludir o povo.
Cadê os 30% do dinheiro público para a segurança?
Se mandam e eu não vejo resultado. O dinheiro que alguns mandam pode até chegar  em certos locais, mas desaparecem como fumaça;
Falam de democracia. Que democracia é essa se nos obrigam a votar. Cadê o líder  que foi posto lá para nos defender?
Eles não veem que passamos por dificuldades, falta de saneamento básico!
 Falam que vão melhorar, tem que melhorar, que mudar por inteiro.
Para que servem todos aqueles impostos que pagamos?
- É para isso, para melhoria de todos nós.
Um país tão lindo, rico de belezas, que se torna privado para nós. Com riquezas das mais diversas que outros países e que poucos desfrutam.
Vem aí outras eleições e mais promessas , tentamos acreditar no inacreditável, tentamos acreditar em um Brasil melhor.
Sou confiante, e mais sou BRASILEIRA!

TALITA OLIVEIRA
Desabafo de uma jovem que cursa o 9o. ano no Instituto Hélio Góes e membro da ALASAC.

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