sexta-feira, 28 de agosto de 2015

ELA ME FAZ ENXERGAR

  • ELA ME FAZ ENXERGAR E ATÉ MESMO VER SEM TATEAR, SEM BATER ANDANDO SEM PERCEBER OS OBSTÁCULOS? CALÇADAS? BURACOS? PROBLEMAS NA VIDA? O SENHOR NA LIDA ELA ME FAZ ENFRENTAR ELA ME FAZ ENXERGAR ELA ME FAZ ENXERGAR E ATÉ MESMO VIVER ELA ME FAZ ENTENDER UM POUCO DO IMENSO MUNDO DA NEGRITUDE PROFUNDO CINZA OU BRANCO BORRADO PONTOS QUE, AVIVADOS CRIAM VIDA A BRINCAR ELA ME FAZ ENFRENTAR ELA ME FAZ ENXERGAR ELA ME FAZ ENXERGAR E ATÉ MESMO VER ELA ME FAZ RENASCER ELA ME FAZ ENTRETER ELA ME FAZ VIVER ELA ME FAZ SONHAR E O SENHOR? NOS GUIA ELA É MINHA ALEGRIA ELA ME FAZ ENFRENTAR ELA ME FAZ ENXERGAR ELA ME TRAZ ALEGRIA ELA ME FAZ ENXERGAR ELA ME FAZ VIBRAR E COM O SENHOR ESTAR ME FAZ CONCRETIZAR E NA IGREJA ATUAR COM O SENHOR LOUVAR ELA FAZ REVERTER SITUAÇÃO QUASE PERDIDA ELA ME TRAZ A VIDA ELA ME FAZ ENXERGAR
Antônio Marcos Bandeira, professor de Português, poeta, cordelista, palestrante, esposo de Maria de Lourdes Fernandes, escritora, poeta, membro da ALASAC Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos, cadeira 24 patrono Moura Brasil.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

AS BORBOLETAS




Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam de muita luz.


As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então
Oh, que escuridão!

Vinícius de Morais



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

CASA ARRUMADA




Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

POEMAS SALTITANTES

É assim a vida do poeta.
Como criança saltitando,
brincando pela estrada,
poemas surgem em sua cabeça...
rapidamente colocados no papel,
feito pipoca que pula na panela,
pulam para alegrar a vida das
crianças que aguardam sentadas no
chão para mais uma sessão.
É assim a vida do poeta...
saltitante,
brilhante,
emocionante.
Carmen Menezes
Membro da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência
aos Cegos- ALASAC
Cadeira no. 20
Patrono Antonio Bandeira


domingo, 2 de agosto de 2015

MÃOS GENEROSAS


   Não lembro qual dia da semana ela batia no portão da minha casa.
   Eu a conheci quando passei seis meses sem trabalhar porque minha filha ainda mamava.
   Solícita minha mãe ia até o portão e ambas conversavam, depois minha mãe entrava em casa e voltava com algum embrulho, se despediam às vezes em silencio. Dona Helena era o seu nome, tinha vários filhos (não lembro quantos), trazia no colo uma menininha da idade de minha filha. Se queixava de dores no peito, tomava chá de colônia para aliviar.
   Minha mãe também tinha problemas cardíacos, angina, mais fazia tratamento no Hospital Universitário Walter Cantídio. Dona Helena pedia conselhos sobre a dor no peito e mamãe falava: - Eu não lavo mais roupa, não pego peso e olhe que sou bem mais velha que a senhora.
   Olhando para as duas mulheres, mamãe já perto dos setenta anos, pareciam que tinham a mesma idade tão grande eram as dificuldades que dona Helena passava. Em umas férias do meu trabalho vi dona Helena no portão a menina dela vestia um dos vestidos de minha filha, muito curto e apertado pois sua criança era gordinha.
   Os anos passaram as visitas de dona Helena foram escasseando por conta das dores no peito, agora quem vinha era a garota de olhos vivos e gestos inquietos. Mamãe continuava entregando seus pacotes com alimentos e folhas  de colônia, um santo remédio para o coração. Quanto as roupas de minha filha, que continuava magrinha, somente algumas blusas ou short's de lycra eram doados para a garota de pernas grossas e compridos  cabelos pretos.
   Mesmo depois do falecimento de minha mãe e de dona Helena a garota aqui acolá aparecia em nossa porta pedindo esmolas, minha filha já era casada e mãe, ela também era mãe, deixava sua criança na creche e saia a pedir esmolas nas casas onde conheceram dona Helena. Certa vez tentei conversar com a jovem perguntando: - Por que você não trabalha?  Sua mãe lavava roupa, por que você não procura essas pessoas? Por que você não volta a estudar?  As respostas foram evasivas e em seguida estendeu as mãos para receber as moedas que eu  trouxera para lhe dar.
   Ao entrar em casa meu irmão Carlos, que estava de férias do trabalho, me chamou a atenção por
manter conversação com a jovem. Então eu me defendi e disse: - Essa moça  é filha da dona Helena, a mamãe ajudava, são pessoas muito pobres. E espantada escutei meu irmão falar: - Essa moça é conhecida no terminal como prostituta e ladra!
   Fui para a cozinha e de lá olhei para o quintal, não havia mais a planta colônia com seu delicioso aroma, assim como aquelas duas mulheres que conversavam no portão sobre o olhar de duas meninas com destinos tão diferentes.
   Fátima Silva
   02/08/15

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