quarta-feira, 27 de maio de 2015

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
Carlos Drummond de Andrade


quarta-feira, 20 de maio de 2015

A GRAVIDEZ INDESEJADA II


   Os pais de Sílvia saem da sala arrastando os pés e se  dirigem para o quarto. Carlos ao entrar fala para a mulher: - Eu sempre lhe disse que íamos ser castigados por Deus! Você nunca confessou para o padre que estava grávida quando casou toda de vestido branco.
   A mulher olha para o marido e responde com nervosismo: - Você queria que eu fosse expulsa de casa com um filho na barriga. Sim, porque você casou comigo, mais sempre me jogou na cara que eu fora muita fácil para você.
   A mulher senta na cama e com as mãos sobre a cabeça chora convulsivamente. Carlos fica de pé e olha para o jardim, quantas vezes chegara no jardim e encontrara a filha atracada com o namorado. Lembra o passado quando conhecera Socorro, hoje sua esposa, ele com quase cinquenta anos e ela com mais de quarenta anos.
   Se conheceram no primeiro dia da festa da padroeira, conversaram um pouco debaixo dos atentos olhos da mãe de Socorro. Uma senhora vestida de preto com mangas compridas e o cabelo preso pelo um coque. Socorro era uma mulher robusta, com seios avantajados espremidos no vestido de cetim verde. Marcaram de se encontrar no outro dia, se possível, antes da novena, dissera Socorro, sua mãe dormia cedo.
   No outro dia lá estava Carlos muito cedo à espera de Socorro, não sabia como ia fazer para ficarem sozinhos. Socorro chegara junto com a mãe, a mulher adentrou na igreja, mais antes deu uma boa olhada em Carlos. O casal desceu as escadarias e foram para um lugar mais afastado e escuro que para surpresa de Carlos, a mulher se atracou em seu pescoço lhe enchendo beijos. E para alegria de Carlos a mulher lhe disse ao ouvido: - Trabalho no armazém de tecidos na pracinha, no empacotamento, podemos nos encontrar depois que terminarem as novenas. E perguntou: Em que você trabalha, meu amor?
   Carlos quase sufocado nos braços da mulher responde: - Na relojoaria.
   A partir daquele dia os dois passaram a se encontrar na semana escondidos e no domingo na igreja. Aos poucos a mãe de Socorro foi deixando o olhar de cisma para Carlos. Certo domingo a mãe de Socorro amanheceu indisposta e com muitas recomendações deixou a filha ir sozinha para a igreja. Carlos ficou feliz ao vê-la sozinha mais ficou espantado quando Socorro falou: - Vamos dar uma voltinha? E foram.
   Desceram a rua em direção a um campinho de futebol, onde a molecada jogava bola nos fins de semana e lá chegando entre beijos, abraços e carícias os dois se entregaram ao amor de corpo e alma. Quando passaram em frente a igreja a missa já ia terminar, o casal subiu as escadas de mãos dadas e ninguém notou o nervosismo de Carlos e o ofegar de Socorro. Antes de entrar em casa Socorro falou para Carlos: - Agora você tem que casar comigo, pois você viu benzinho, eu era virgem. Amanhã mesmo vamos cuidar de tudo.
   No outro dia Carlos pediu para sair mais cedo do emprego, foi atrás de um amigo para desabafar, sabia que tinha caído numa enrascada, ele que sempre se esquivara de moças virgens, de compromissos. O amigo lhe chamou de burro, de idiota e o pior de tudo, Carlos não gostava de Socorro. Inventara uma mentira para Socorro: - Vou me casar com você, é claro, porém, vamos primeiro noivar. Domingo vou pedir sua mão em casamento, amanhã vá na loja escolher uma aliança. O casal noivou, Socorro não via a hora de ter outro encontro íntimo com seu noivo. No domingo seguinte Carlos viu Socorro chegar sozinha e foi logo perguntando: - Sua mãe está doente? E esta respondeu: Não, bobo, como estamos noivos, mamãe veio para missa de manhã. Carlos deu um suspiro, segurou a mão da noiva e desceu em direção ao descampado.
   Com três meses de noivado Carlos casou com Socorro grávida. Ninguém desconfiou de nada, inclusive a mãe de Socorro, quando aos sete meses Sílvia nasceu, afinal sua filha tinha mais de quarenta anos, pensava até que não ia ter netos.
   Socorro tivera duas filhas e depois disso ela e o marido viviam um casamento de aparência. A mulher engordara muito, enquanto Carlos continuava com seu porte esbelto. As meninas a medida que iam crescendo  percebiam que os pais  viviam discutindo por algo referente ao passado. A filha mais nova Ana Carla com quatorze anos começara a namorar e para tristeza de Carlos casou-se às pressas, pois estava grávida.
   A partir desse fato Socorro passou a vigiar a filha mais velha Sílvia e gritava a plenos pulmões: - Não vá fazer a bobagem de sua irmã mais nova, quero assistir seu casamento como minha mãe assistiu ao meu toda vestida de branco e é com meu vestido branco que você vai entrar na igreja.
   Carlos passara todos esses anos ouvindo a mulher oprimir sua filha com a mentira do passado sem contar que a cada dia ficava mais gorda e insuportável.
   Carlos sai da janela e grita para a mulher: - O que será da minha filha? Quem devia ter ficado sozinha grávida era você, sua, sua, sua GORDA!
Fátima Silva
   
   
   

sexta-feira, 15 de maio de 2015

TRAIÇÃO

 
   Carlinha era casada há mais de doze anos quando conheceu Antonio.
   Solteiro, filho  único, trabalhava numa seguradora, morava com os pais, tinha seu quarto com uma porta que dava acesso direto com a garagem.  Ao ver Carlinha conversando com sua mãe se aproximou da mesa de jantar onde as duas conversavam e tomavam café. A mãe pediu licença a amiga e falou para o filho:  - Não foi trabalhar filho? Sente conosco e tome um cafezinho com bolo. E acrescentou: - Essa é Carlinha minha amiga, mora há poucos quarteirões daqui de nossa casa.
   Carlinha sentiu o olhar malicioso de Antonio e com a mão esquerda espalmada para mostrar a aliança de casada falou: - Gosto muito de sua mãe, como não tenho mais mãe vim pedir uma receita boa de xarope, pois minha filha mais nova está muito gripada.
   Antonio não demonstrou dar a menor importância ao fato de Carlinha ser casada e ter filhos e sem preâmbulos disse: - Gostei de você Carlinha, depois vou anotar seu celular com minha mãe, terminei um noivado agora depois de muitos anos e estou precisando namorar.
   Carlinha ficou rubra de vergonha, nunca tinha sido "cantada" tão acintosamente e, na frente de sua melhor amiga que apenas disse para o filho: - Tenha juízo menino, Carlinha é uma mulher séria, apesar de ser uma sofredora, fez um péssimo casamento. E continuou: Também engravidou com quatorze anos, não sabe nem o que é namorar.
   Antonio pediu licença deu uma piscadela para Carlinha e saiu assobiando em direção ao seu quarto. Carlinha  ao chegar em casa ficou a pensar nos olhares que Antonio lançara para seu corpo.  Era baixa, seios volumosos ressaltados pela camiseta de cavas e decote generosos. O short curto expunha suas pernas e coxas grossas. Foi até o espelho e se olhou,  viu uma jovem mulher de cabelos crespos amarrados no alto da cabeça, lábios grossos, olhos brilhantes. Ouviu o toque do celular, atendeu o número desconhecido e ficou pálida ao ouvir do outra lado linha a voz de Antonio sorridente lhe chamando para dar uma volta. Sem titubear, tomada por um frenesi da aventura marcou a hora e correu para o banheiro cantarolando.
   Desse dia em diante Carlinha e Antonio passaram a se encontrar quase todos os dias. Um dia Carlinha foi surpreendida quando Antonio entrou com ela sua moto na garagem da casa dele. Era um sábado seu marido com certeza quando saísse do trabalho ia beber e somente a noitinha voltava para casa completamente bêbado.
   A medida que o tempo passava Carlinha começou a pressionar Antonio, queria algo mais, se separar do marido e viver livremente com seu amante, sem precisar todo dia dar uma desculpa e o pior era que não suportava nem olhar para o marido, que às vezes na cama reclamava: - Que é isso mulher, tu só vive agora doente, é dor de cabeça, é cansaço... O que tá havendo? Então para não haver qualquer desconfiança ela cedia mais, seu pensamento era direto no amante.
   Um sábado Carlinha fora cedo para casa de Antonio, os encontros já eram do conhecimento de dona Alice, mãe de Antonio, que dizia para o filho: - Tenha cuidado, meu filho, Carlinha é uma mulher casada e tem duas filhas para criar.
   Se passaram dois anos e foram muitas as insistências de Carlinha, até  que Antonio alugou uma casa. Depois da casa alugada Carlinha chamou seu marido e falou: - Nosso casamento não está mais dando certo, o melhor é a gente se separar, você só vive bêbado, minhas filhas nunca passeiam com você, graças a Deus, que o filho da minha amiga dona Alice, gosta muito das meninas e aqui acolá está levando elas para uma sorveteria, pizzaria... Eu já sou adulta me conformo de não passear mais as meninas, estão ficando mocinhas, nunca saem com você.
   A discursão durou quase a noite toda e pela manhã o marido de Carlinha saiu de casa para alegria dela. Depois que as meninas foram para a escola, Carlinha se arrumou e foi contar tudo para sua amiga dona Alice e breve sua sogra. Dona Alice ficou cabisbaixa ouvindo a mulher alegremente sobre a saída do marido de casa. Carlinha ligou para o namorado lhe contando a novidade e pediu que ele viesse direto para casa, pois ela tinha muitos planos para o futuro deles.
   Carlinha saiu da casa de dona Alice e não resistiu a curiosidade e foi até a tal casa que Antonio tinha alugado.  Chegando lá viu que tinha dois homens ajeitando a calçada, pediu licença e entrou. Para sua surpresa uma moça alta, bem vestida estava no jardim falando para um rapazote sobre as plantas. Essa ao ver Carlinha se dirige até ela e pergunta: - Pois não, a senhora queria alugar a casa? Eu e meu noivo já alugamos.
   Carlinha ficou pálida e perguntou gaguejando: - Como é o nome do seu noivo? A moça lhe responde sem pestanejar: - Se chama Antonio, filho da dona Alice, por que?
   Ainda em estado de choque Carlinha fala: - É porque sou muito amiga de dona Alice e ela nunca me disse que o seu filho estava noivo.
   A moça deu um risinho e respondeu: - Porque há dois anos tivemos uma briga feia e quando voltamos nosso noivado uma das coisas que Antonio mais me pediu é que eu não andasse na casa da mãe dele pois essa não gostava de mim.  E se eu lhe contar, a senhora não vai acreditar, a dona Alice ajeitou um namoro do Antonio com uma mulher casada, só para ele não voltar prá mim.!               Carlinha sentiu uma tontura, uma imensa vontade de chorar, então a moça
 lhe perguntou: - A senhora está bem? Está pálida?
Fátima Silva
15/05/15

segunda-feira, 11 de maio de 2015

MANHÃS POÉTICAS

BONECA
De carne e osso a boneca,
Abandonada na rua,
Desprovida, a sapeca,
Por teto tem a mãe lua.
Pernoita sobre calçada
No País de qualquer jeito.
Mão bandida a faz tocada
Naquele nefasto leito.
Logo mais eis o rebento
Daquela sanha safada,
Outra criança ao relento.
Outra boneca sem nada.
Não é raro esse retrato
Lastimável no País.
Criança sob maltrato
Pare e nina infeliz.



AMO
AMO AQUELA QUE ME ABRAÇA
COM O ESPLENDOR DA EMOÇÃO.
SABE SER SORRISO E GRAÇA,
E FLOR DE TODA SEDUÇÃO.
INVADE MEUS PENSAMENTOS
E FAZ QUE SONHE ACORDADO.
NA CAMA FAZ MEUS MOMENTOS
E DE TODO ACARICIADO.
EM TUDO QUE DIZ HÁ SENTIDO.
É MEU ANJO PROTETOR.
NÃO HÁ COMO DIVIDIDO
COM OUTRA FAZER-ME EM AMOR.
E ASSIM DE TODO ENREDADO
NA ACESA CHAMA DO SEU AMOR,
ENTREGO-ME ESCRAVIZADO
AO SEU SER ENCANTADOR.

Poesias de autoria do meu amigo doutor Francisco Facó
.*.

sábado, 9 de maio de 2015

SER MÃE


Sou mãe da Angélica
filha única que me deu Junior Braga como filho.
E me presentearam com o Yuri Braga como neto.
Amo a cada um
e os três como um só.
FELIZ DIAS DAS MÃES!!!

Fátima Silva
09/05/15

quinta-feira, 7 de maio de 2015

O VARAL DA ALEGRIA


Livros e corações espalhando abraços
olhares letrados e mãos escritoras se encontrando
fizeram de Genebra a direção de  muitos  passos
e um grande sarau  de almas cantando.

A Suiça ficou um pouco mais brasileira
ao ouvir as canções com aquela  melodia
que trouxe a plangente saudade à nossa maneira
estendendo a mestiça raíz  no Varal da alegria.

O mundo se apequenou com tanta inspiração aproximada
entre literatos famintos por palavras de chocolate
a adocicar um sonho de paz que se tramava
com a cultura universal em vigoroso combate.

O Ceará se tornou o mais suíço Estado da literatura
com a AMLEF e a ALASAC desbravando europeias plagas
através da harmoniosa sintonia que é formosura
a unificar os escritores com suas diferentes sagas.

O Varal da alegria escreveu páginas antológicas
na indelével obra que se guarda na memória
catalogada pela ação das mais belas lógicas
que fazem dos autores os personagens da mesma história.

Nada do que se expôs nas prateleiras do salão
tinha mais essência do que transmitiu um amigo casal
ao nos receber com bibliográfica doação
naquele  stand que colocou o Brasil no varal.

Paulo e Jacqueline foram verdadeiros guerreiros
juntadores de livros e de nobreza humana que resiste
aos petardos mortais que são sempre certeiros
e que partem da falta de cultura que ainda persiste.

Nos resta agradecer com trovas os momentos
compartilhados entre os Alpes e o sertão Nordestino
o Varal ficará pra sempre nos nossos pensamentos
e Genebra a mais nova paisagem de cada destino.

Paulo Roberto Cândido
Membro da AMLEF e presidente da ALASAC

segunda-feira, 4 de maio de 2015

VIVÊNCIAS

Um dia, você vai perceber que a vida é uma eterna ciranda, e que temos que aprender a dançar.
Vai perceber que o remédio amargo é o que cura e que as dores não são eternas.
Um dia você vai perceber que em dias nublados, também há claridade.
Que o sorriso verdadeiro é aquele que acompanha o olhar.
Que as pessoas que verdadeiramente te amam, vão te olhar nos olhos e te dizer algumas verdades e, você vai amá-las por isso.
Que um dia de sol, às vezes, é cinzento.
Que você pode mudar de idéia várias vezes, ao longo de sua vida, sem deixar de ser você.
Vai perceber que é possível ser feliz em qualquer tempo.
Que o coração não envelhece.
Que ser feliz ou não, é muitas vezes, uma questão de escolha.
Que você pode se sentir sozinho, estando acompanhado ou completamente feliz, estando só.
Um dia, você vai perceber que o abraço cura e que a saudade é sinal de vivências.
Que os filhos são herança e que podemos nos enriquecer de sabedoria, observando as crianças.
Que não se deve engavetar sonhos.
Que você é ESPECIAL, simplesmente por ser você.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

MAIO MÃE


Mãe a raça humana deve a você a continuação da espécie Homo Sapiens,
das cavernas, seja dos trópicos, das geleiras, dos desertos, das florestas,                                               dos manguezais, das cidades, dos subúrbios, das favelas, dos esgotos, dos guetos,                              das sarjetas.
Nos palácios, nas mansões, nos condomínios, nos casebres, nas choupanas.
Mães dos presidiários, dos cadeirantes, estupradores, dos marginais, dos cegos,
dos bêbados, dos viciados, dos assassinos, dos ladrões, dos homossexuais, dos tiranos,
dos oprimidos, dos opressores, dos doutores, dos cientistas, dos astronautas.
Mães carinhosas, desleixadas, descabeladas, ditadoras, preguiçosas, felizes, trabalhadoras,
dedicadas, distraídas, ensandecidas, obesas, aleijadas, elegantes, bandidas, guerreiras.
Mães solteiras, mães muito bem casadas, mães meninas, mães avós, mães que abortam,
mães adotivas, mães que pagam a babá, mães que catam o lixo, mães  que estendem as
mãos, mães que jogam no lixo o fruto do seu ventre, mães que choram nas madrugadas.
Maio das mães que ganham presentes, que almoçam em restaurantes chiques, que fazem viagens exóticas, mães que recebem beijos e homenagens, mães que recebem telefonemas
de lugares distantes, mães que recebem visitas em hospitais ou em presídios, mães que recebem flores em suas lápides, mães tão velhas que não reconhecem seus filhos, mães que abrem sorrisos e corações para receberem seus filhos ilustres ou mendigos.
Para todas as mães estendo o tapete da realeza, procuro o bicho da seda para confeccionar o tecido macio para cobrir o corpo que aninhou em seu ventre um embrião que se tornou feto
e dar vida a mais um ser humano, mergulho nas profundezas dos oceanos e procuro conchas para ornamentar com pérolas seu pescoço e calçar em seus pés sapatos de cristal como princesa de contos de fadas e peço a Lua um pouco do seu brilho para um pequeno flash sobre você Mulher que dá vida ao único ser racional no planeta Terra: O HOMEM.
Fátima Silva
25/02/15
Texto publicado na Revista Varal do Brasil no. 35- Genebra- Suíça



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