Os
pais de Sílvia saem da sala arrastando os pés e se dirigem para o quarto. Carlos
ao entrar fala para a mulher: - Eu sempre lhe disse que íamos ser castigados
por Deus! Você nunca confessou para o padre que estava grávida quando casou
toda de vestido branco.
A
mulher olha para o marido e responde com nervosismo: - Você queria que eu fosse
expulsa de casa com um filho na barriga. Sim, porque você casou comigo, mais
sempre me jogou na cara que eu fora muita fácil para você.
A
mulher senta na cama e com as mãos sobre a cabeça chora convulsivamente. Carlos
fica de pé e olha para o jardim, quantas vezes chegara no jardim e encontrara a
filha atracada com o namorado. Lembra o passado quando conhecera Socorro, hoje
sua esposa, ele com quase cinquenta anos e ela com mais de quarenta anos.
Se conheceram no primeiro dia da festa da padroeira, conversaram um pouco debaixo dos atentos olhos da mãe de Socorro. Uma
senhora vestida de preto com mangas compridas e o cabelo preso pelo um coque.
Socorro era uma mulher robusta, com seios avantajados espremidos no vestido de
cetim verde. Marcaram de se encontrar no outro dia, se possível, antes da novena,
dissera Socorro, sua mãe dormia cedo.
No
outro dia lá estava Carlos muito cedo à espera de Socorro, não sabia como ia
fazer para ficarem sozinhos. Socorro chegara junto com a mãe, a mulher adentrou
na igreja, mais antes deu uma boa olhada em Carlos. O casal desceu as
escadarias e foram para um lugar mais afastado e escuro que para surpresa de
Carlos, a mulher se atracou em seu pescoço lhe enchendo beijos. E para alegria
de Carlos a mulher lhe disse ao ouvido: - Trabalho no armazém de tecidos na
pracinha, no empacotamento, podemos nos encontrar depois que terminarem as
novenas. E perguntou: Em que você trabalha, meu amor?
Carlos quase sufocado nos braços da mulher responde: - Na relojoaria.
A
partir daquele dia os dois passaram a se encontrar na semana escondidos e no
domingo na igreja. Aos poucos a mãe de Socorro foi deixando o olhar de cisma
para Carlos. Certo domingo a mãe de Socorro amanheceu indisposta e com muitas
recomendações deixou a filha ir sozinha para a igreja. Carlos ficou feliz ao vê-la
sozinha mais ficou espantado quando Socorro falou: - Vamos dar uma voltinha? E
foram.
Desceram
a rua em direção a um campinho de futebol, onde a molecada jogava bola nos fins de semana e lá chegando entre beijos, abraços e carícias os dois se entregaram ao amor de corpo e alma.
Quando passaram em frente a igreja a missa já ia terminar, o casal subiu as
escadas de mãos dadas e ninguém notou o nervosismo de Carlos e o ofegar de
Socorro. Antes de entrar em casa Socorro falou para Carlos: - Agora você tem que
casar comigo, pois você viu benzinho, eu era virgem. Amanhã mesmo vamos cuidar
de tudo.
No
outro dia Carlos pediu para sair mais cedo do emprego, foi atrás de um amigo
para desabafar, sabia que tinha caído numa enrascada, ele que sempre se
esquivara de moças virgens, de compromissos. O amigo lhe chamou de burro, de
idiota e o pior de tudo, Carlos não gostava de Socorro. Inventara uma mentira para
Socorro: - Vou me casar com você, é claro, porém, vamos primeiro noivar.
Domingo vou pedir sua mão em casamento, amanhã vá na loja escolher uma aliança.
O casal noivou, Socorro não via a hora de ter outro encontro íntimo com seu
noivo. No domingo seguinte Carlos viu Socorro chegar sozinha e foi logo
perguntando: - Sua mãe está doente? E esta respondeu: Não, bobo, como estamos
noivos, mamãe veio para missa de manhã. Carlos deu um suspiro, segurou a mão da
noiva e desceu em direção ao descampado.
Com
três meses de noivado Carlos casou com Socorro grávida. Ninguém
desconfiou de nada, inclusive a mãe de Socorro, quando aos sete meses Sílvia
nasceu, afinal sua filha tinha mais de quarenta anos, pensava até que não ia
ter netos.
Socorro
tivera duas filhas e depois disso ela e o marido viviam um casamento de aparência.
A mulher engordara muito, enquanto Carlos continuava com seu porte esbelto. As
meninas a medida que iam crescendo percebiam que os pais viviam
discutindo por algo referente ao passado. A filha mais nova Ana Carla com
quatorze anos começara a namorar e para tristeza de Carlos casou-se às pressas, pois estava grávida.
A
partir desse fato Socorro passou a vigiar a filha mais velha Sílvia e gritava a
plenos pulmões: - Não vá fazer a bobagem de sua irmã mais nova, quero assistir
seu casamento como minha mãe assistiu ao meu toda vestida de branco e é com meu vestido branco que você vai entrar na igreja.
Carlos
passara todos esses anos ouvindo a mulher oprimir sua filha com a mentira do
passado sem contar que a cada dia ficava mais gorda e insuportável.
Carlos sai da janela e grita para a mulher: - O que será da minha filha?
Quem devia ter ficado sozinha grávida era você, sua, sua, sua GORDA!
Fátima Silva
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