domingo, 29 de março de 2015

O GRITO


O homem caminha com passos rápidos
na rua sem asfalto e com pouca iluminação.
Seus sapatos fazem barulho sobre o calçamento
com pedras soltas.
Linhas de preocupação marcam sua testa
e lágrimas escorrem sobre seu rosto e formam
manchas no azul da camisa.
As luzes fracas da iluminação pública fazem sombras
lúgrebes e fantasmagóricas.
São fantasmas de um passado de poucas horas,
algumas semanas talvez uma década de anos...
As pessoas caminham com passos rápidos
com olhares rígidos, sem movimentos nas órbitas enormes.
Um cão de rua dá um latido e a lua brilha debaixo de
nuvens escuras e esgarçadas.
O homem sobe uma escada e debaixo da lâmpada fraca
ele pára e grita!
Grito de dor.
De dores adormecidas outras latentes e
vibrantes como fios retesados e esticados.
Grito de agonia.
Uivo da alma rasgada por sofrimentos
amontoados de lembranças.
Grito de desespero.
Com significado de: Basta!
Grito de alerta.
Que também diz: Não me critique mais,
pare de apontar meus erros e desprezar meus acertos.
Grito sem eco.
Levado pelo sopro dos ventos
da fria noite escura.

Fátima Silva
29/03/15

segunda-feira, 23 de março de 2015

SEM PACIÊNCIA

Já não tenho paciência para algumas coisas, não porque me tenha tornado arrogante, mas simplesmente porque cheguei a um ponto da minha vida em que não me apetece perder mais tempo com aquilo que me desagrada ou fere.
Já não tenho pachorra para cinismo, críticas em excesso e exigências de qualquer natureza.
Perdi a vontade de agradar a quem não agrado, de amar quem não me ama, de sorrir para quem quer retirar-me o sorriso.
Já não dedico um minuto que seja a quem me mente ou quer manipular. Decidi não conviver mais com pretensiosismo, hipocrisia, desonestidade e elogios baratos. Já não consigo tolerar eruditismo selectivo e altivez académica.
Não compactuo mais com bairrismo ou coscuvilhice. Não suporto conflitos e comparações. Acredito num mundo de opostos e por isso evito pessoas de carácter rígido e inflexível. Na Amizade desagrada-me a falta de lealdade e a traição.
Não lido nada bem com quem não sabe elogiar ou incentivar.
Os exageros aborrecem-me e tenho dificuldade em aceitar quem não gosta de animais.
E acima de tudo já não tenho paciência nenhuma para quem não merece a minha paciência.
___ JOSÉ MICARD TEIXEIRA

quarta-feira, 18 de março de 2015

SIGA EM FRENTE

"Apaga esse número da agenda mulher! Arranca essa tralha da tua vida. Destrava esse sorriso, cuida do teu coração. Tempera sua vida com amor-próprio, se embriague de si mesma, busque novas emoções, deleite-se em novas razões.
Acredite que vai passar, acredite em você! Saia da sombra e use aquele vestido soltinho... Enfeite o cabelo com seu mais belo laço, ponha seu anel preferido, avisa que você voltou! Avisa que você foi lá, e recuperou seu sorriso.
A tal "rua da amargura" agora se chama "rua da autoestima", e o tal "pão que o diabo amassou" se transformou em "banquete de honra"! Não aceite os "nãos" que a vida ainda insiste em te dar. Dê as costas para as intrigas, ignore as críticas, e lance no mar do esquecimento sua dor.
Esqueça o que não acrescenta, e não olhe pra trás. Porque, aquele que olha pra trás, só vai encontrar migalhas e folhas secas. E migalhas e folhas secas, só servem para serem varridas. Nada mais."
(Autor Desconhecido)

quinta-feira, 12 de março de 2015

FRAÇÃO DO TEMPO


Dias cheios de sol e noites enluaradas.
Outros com muitas chuvas e noites escuras e frias.
Dias  cheios de alegria às vezes cortado por
um momento de angústia, um soluço engasgado
com o nariz a escorrer a coriza pertinente.
Mês de "aperto" financeiro, noites insones.
Os dez dias de férias merecidas que transporta sonhos
que vão se realizar numa praia distante ou na serra,
na visita aos familiares que moram no árido sertão.
Mês de mormaço, de noites indolentes de céu
bordado de estrelas como um manto de um rei
distante que dorme sobre fofas almofadas tecidas em cetim.
Ano da chegada do primeiro filho ou quem sabe do primeiro neto.
Da festa de casamento do noivado demorado.
As chaves do apartamento que felizmente foram entregues
ao proprietário agastado pelo tempo de atraso.
Ano do término da faculdade e o início no ensino infantil.
Da separação do casal quase perfeito.                                                                                                       A  comemoração das bodas de ouro dos avós com juras de amor eterno.
A risada prolongada e o choro descontrolado.
O olhar de amor eterno dos enamorados.
O espasmo da dor do ente querido que se foi
de repente numa fração de segundos.
Meses que voam, dias de agenda lotada.
Compromissos adiados por uma tarde no balanço de uma rede.
Anos de boa colheita de inverno rigoroso com lavouras exuberantes.
Noutros  a terra seca levanta a poeira onde
os leitos dos rios se tornam desertos rodeados por esqueletos
de bichos e plantas.
E no relógio do tempo aparece sorridente por um fugaz momento
a impetuosidade  dos que vivem uma paixão.
Tempo marcado também pela dor da saudade do amor perdido
nos entretantos da vida levados num vendaval de lágrimas.
Fração de tempo onde brota e fenece a vida.

Fátima Silva
24/02/15


segunda-feira, 9 de março de 2015

OS CUIDADOS DA COMADRE RITINHA


Ritinha e Diassis iam todos os finais de semana visitar seus familiares e amigos no lugarejo onde nasceram.
A localidade se chamava Imbu, a igreja era a principal construção rodeada por uma pracinha com bancos de madeira e alguns canteiros de plantas e rosas.
Aos domingos as pessoas iam fazer suas compras na feira que tomava um grande espaço na rua lateral da igreja. Na feira se encontrava de tudo, dos cereais, as carnes, frutas, verduras e peças de roupas, calçados.
Diassis era um comerciante bem sucedido na capital, com o crescimento dos negócios mandara construir uma casa grande no terrenos que ganhara dos seus pais, já falecidos.
Ritinha  era tida como mulher de muita sorte, já que Diassis enricara e lhe dava uma vida de rainha na cidade grande. O casal tinha três filhos que preferiam ficar na cidade na casa de amigos pois achavam Imbu um fim de mundo e um lugar sem graça.
No sábado pela manhã o casal chegava no lugarejo, Ritinha com seu cabelo longo  solto nas costas,  sandálias rasteiras, vestido curto  com um generoso decote, que mostrava suas pernas bem torneadas e seu colo exuberante.
Aos domingos o casal ia para a missa, e ao término dessa, se separavam, pois Ritinha ia conversar com as amigas e Diassis ficava bebendo uns "tragos" numa roda de amigos, alguns conhecia deste menino. Se encontravam somente ao entardecer, hora de viajarem para a cidade.
Certo domingo o comentário na feira era a morte súbita de dona Francisca, mulher de
Zé Antonio, compadre de Diassis e de Ritinha. O homem estava numa tristeza de cortar o coração, mandara os meninos para a casa da sogra e desde o ocorrido, não comia e nem bebia nada, somente  um cafezinho e água do pote.
Ao saber  da triste notícia de seu compadre Diassis pediu um cavalo emprestado e saiu a galope até o sítio de Zé Antonio.
Ao se aproximar do sítio Diassis diminuiu o trote do cavalo pois ouviu que havia visita na casa do compadre e era voz de mulher. Desceu do cavalo e veio puxando as rédeas até bem perto do terreiro onde algumas galinhas ciscavam.
Na varanda uma rede balançava, uma mulher estava deitada, no chão batido de barro uma sandália rasteira e um longo cabelo esvoaçava quase rente ao chão. Zé Antonio veio lá de dentro trazendo uma caneca, sentou na rede e foi enlaçado pelos braços da mulher.
O cachorro começou a latir fazendo com que Diassis saísse de trás dos arbustos, Ritinha com ligeireza ficou em pé ajeitando os seios fora do decote. Com uma das mãos no quadril gritou para Diassis:
- Não é nada do que você está pensando, vim apenas consolar nosso compadre Zé Antonio.
O barulho dos cascos do  cavalo e o latido do cachorro encobriram a voz da mulher que ainda gritou:
- Ôxe deixe de ciúmes homem de Deus!
Fátima Silva
01/03/15

domingo, 8 de março de 2015

MULHER CEGA


Não vê as cenas da maldade,
não enxerga o rosto da falsidade,
não percebe quando sorri a felicidade.
Nunca verá a cor da mentira,
nem o rosto vermelho da ira,
muito menos pra onde aponta a mira.
A mulher cega quer ser vista
por aquele político da entrevista
ou pela notícia que não saiu na revista.
Ela não vê cara, vê coração
e enxerga com a emoção,
os cenários da verdadeira inclusão.
A mulher cega quer respeito,
quer punição pro malfeito
e acessibilidade pedir ao prefeito.
Namora como qualquer mulher,
sabe utilizar bem o talher
e guiar o vidente que vier.
A cegueira dela é uma luz,
para a discriminação que produz
uma sociedade que está cheia de pus.
A mulher cega não quer esmolas
quer homem visionário que lhe dê molas
e livros acessíveis pra colocar nas sacolas.
ela, com ou sem bengala,
sonhos de caminhar embala,
pela estrada por onde rala...
Paulo Roberto Cândido 
Presidente da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos-ALASAC
-- 

sexta-feira, 6 de março de 2015

BIOGRAFIA DE CARMEN MARIA RIBEIRO GONÇALVES MENESES


VEJA PORQUE CARMEN MENEZES FOI ESCOLHIDA PARA SER HOMENAGEADA NO VII
ENCONTRO DE MULHERES QUE FAZEM A DIFERENÇA NA SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA AOS CEGOS.

Carmen, nossa Carminha, é um misto de extrema sensibilidade e de extraordinária fortaleza, que se expressam na alegria e na coragem de viver. Com a vida tecida entre luzes e sombras criou seu mundo lúdico e lírico que lhe faz feliz e ajuda-lhe a crescer dia a dia, apesar de suas limitações. Construiu um mundo mágico que a envolve com as delícias do belo e do bom.
Vejamos um pouco de sua história, rápidas pinceladas sobre sua vida.
No final da manhã do dia 5 de julho de 1965 nascia, na Casa de Saúde Dr. César Cals, Carmen Maria Ribeiro Gonçalves Meneses. No dia 8 de julho, antes de deixar a maternidade, foi batizada na Capela do próprio Hospital pelo Monsenhor J. Mourão Pinheiro, tendo como padrinhos, Alfredo Machado Meneses e Lourença Gonçalves Meneses, a D. Lolosa.
Foi batizada e registrada com o nome de Carmen Maria Ribeiro da Silva. Eram seus pais legítimos, Maria do Carmo Ribeiro da Silva e Teobaldo Alves da Silva. Teve mais três irmãos, sendo ela a mais velha: João Alfredo, o que mais parecia com ela nos gostos e interesse pela arte, leitura e música; Joaquim Alexandre e Adriana, a última filha de seus pais legítimos.  Adriana faleceu antes de completar um ano de vida e João Alfredo, quando rapaz. Sua mãe biológica também é falecida.
Maria do Carmo, a mãe de Carminha, também afilhada de D. Lolosa, gostava de estar na casa dos padrinhos. Da mesma forma, sua primeira filha, Carmen, permanecia tempos com eles e guardou lindas e fortes lembranças desta etapa de sua vida e da casa onde viviam.
O casal morava na Rua Barão do Rio Branco, próximo à Igreja do Carmo. A casa, muito acolhedora, tinha um grande corredor que levava até o quintal onde Carminha podia deliciar-se com os frutos dos pés de sapoti, ata, serigüela, árvores que também traziam sombra que ajudavam os passeios das galinhas, galos e perus. E como não lembrar a beleza das roseiras e dos jasmineiros, sempre floridos, perfumando e ornamentando o quintal! Em sua memória e em uma foto onde aparece a seu lado vê-se também uma cacimba que reinava imponente naquele espaço que lhe trouxe momentos bem felizes. Este ambiente, que marcou seus primeiros anos vida, despertou-lhe um grande amor pela natureza.
No ano de 1968, quando a casa da Rua Barão do Rio Branco foi vendida para comprar a que moram até hoje, Carmen já estava perto de completar quatro anos e passou a viver definitivamente com os padrinhos que, por opção, tornaram-se seus pais adotivos.
Neste seu novo lar, além do casal que a quis como filha, vivia Giselda, a Tiinha, irmã e tia, também adotada por Alfredo e Lolosa. Giselda, vindo ainda menina da Serra do Ingá, Município de Canindé, passou a morar com eles para estudar. Destaque-se que Giselda é irmã de Maria do Carmo, mãe legítima de Carmen Meneses.
Uma bolsa de estudos que ganhou aos quatro anos foi a chave para permanecer definitivamente com seus padrinhos, podendo iniciar, assim, seus estudos formais. Entrou no Externato Santa Isabel, no Montese, já conhecedora do mundo das letras. Giselda, a Tiinha, havia introduzido Carmen no caminho das letras, o que muito contribuiu para seu grande êxito na escola. Lembra-se ainda da diretora do colégio, uma pessoa animada e brincalhona. Nesta escola teve seu primeiro contato com a poesia. Sua professora gostava de ensinar pequenos poemas e dava, a cada aluno, um caderninho em que vinham escritas, à mão, estrofes de várias poesias. Os alunos declamavam e também apresentavam trabalhos em datas comemorativas, como na Páscoa, quando recitavam versinhos devidamente fantasiados de coelhinho. Carminha guarda até hoje este caderninho. Ela afirma que, apesar de ter ficado apenas um ano nesta escola, foi um período que marcou sua vida.
Depois do Externato Santa Isabel, foi estudar no Colégio Batista onde ficou até terminar o 2º grau, hoje ensino médio. Ao entrar queriam que ela fizesse novamente a alfabetização, mas, ao realizar uma prova, foi aprovada e pode cursar o 1ª ano.
Era um Colégio ligado à Igreja Batista, sempre muito direcionado à religião e ao social.  “Tudo numa dimensão muito bonita”, como diz. Levava os alunos a desenvolverem trabalhos sociais em diversas instituições. Lembra-se do que fizeram no Educandário Eunice Weaver, com os filhos e filhas de leprosos. Os alunos adolescentes visitavam as crianças, tocavam para elas, brincavam e contavam histórias. Carminha recorda que doou sua coleção de revistas em quadrinhos. Lembra-se bem que, no Colégio, incentivavam os alunos a repartir o que tinham e mostravam a importância de ajudar os outros. Fez, também, grandes amizades nesta escola.
A família de Carmen Meneses priorizava os estudos e dava incentivos para que as filhas o priorizassem. A situação econômica em que viviam ajudava a focar a vida no estudo. Normalmente o incentivo era igual a presentes.  Carminha lembra-se de uma boneca - Pituca era o seu nome – cheia de sardas, morena, rechonchuda, risonha, com a língua ligeiramente para fora, no canto da boca, que viveu com ela durante muitos anos. Depois ganhou uma boneca de cabelos escuros da marca Suzy, a Barbie de hoje. Assim, sempre que passava de ano ou tinha bons resultados nas provas, recebia prêmios. Geralmente, revistas em quadrinhos ou livros. Ia, então, ao Centro da Cidade, nas livrarias, para escolher um livro. Passou a conhecer a literatura dos clássicos através de publicações das Edições de Ouro. Lia escritores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar, dentre outros. Chegou a iniciar a leitura da grande obra poética de Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas. Gostava muito de Clarice Lispector e Cora Coralina. Deliciava-se com livros de contos. Contos de fada, contos de outros países, como os do Oriente, contos que gosta de contar até hoje.
Talvez daí tenha saído seu interesse em contar histórias, mas, como diz, não lhe faltou também a influência do pai que gostava de contar piadas. Considera que ele teria sido historiador, se tivesse tido formação acadêmica. Conhecia bem Fortaleza e sempre estava a falar sobre a cidade. Por sua vez, a mãe, paraense, sentia prazer em contar histórias de sua região. Por meio dela, Carminha conheceu várias histórias do Pará e a culinária daquele Estado. Em casa, também, gostava de pintar e desenhar e teve ainda a ajuda da mãe e da Tiinha para aprender a bordar.
E como surgiu sua vocação para psicologia? Eis o que diz!  “No colégio faziam orientação profissional, atividades de liderança de sala, participação no jornal da escola. Além disso, eu também gostava de conversar”.
Seus testes vocacionais apontaram em primeiro lugar a área de ciências humanas, mostraram seu gosto pela arte e, por fim, evidenciou também o campo das ciências biológicas.
A primeira idéia que lhe surgiu foi cursar arquitetura. Tinha feito um curso técnico nesta área, dentro da própria escola, e havia se saído muito bem. Chegou mesmo a fazer vestibular para arquitetura, mas não passou. Deveria ter feito, e não fez, um curso específico de desenho para as provas do vestibular.
Depois passou por um novo vestibular na UNIFOR, desta vez para Pedagogia e freqüentou o curso durante seis meses. A opção pela UNIFOR deveu-se ao fato de que, na época, as Universidades públicas viviam em greve, prejudicando os alunos que necessitavam iniciar cedo a vida de trabalho. Na realidade, Carmen queria ajudar os pais. Já fazia, inclusive, pequenos trabalhos de datilografia e ganhava um dinheirinho. Trabalhava também em escritórios.
Quando terminou seu 1º semestre de Pedagogia, a UNIFOR lançou o Curso de Psicologia. Fez novo vestibular, podendo, assim, participar da 1º turma do curso de Psicologia da Universidade. Fez licenciatura e bacharelado. Antes de concluí-lo, já trabalhava numa escola, o Colégio Santo Inácio, onde criou o serviço de psicologia e orientação educacional no ensino médio.
Em paralelo a essa atividade na escola, clinicou em consultórios, trabalhando em clínicas integradas e em consultório próprio, junto com amigas.  Com ela trabalhavam Maria Augusta Machado Dib, paulista, que tinha vindo morar em Fortaleza com a família, e aqui matriculou os filhos no Colégio Santo Inácio, onde se conheceram e partiram para uma parceria no trabalho, e Graça Rodrigues, mineira, que, por indicação de Maria Augusta, foi orientadora de sua monografia do Curso de Especialização em Saúde Mental Coletiva, pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Até hoje fazem trabalhos juntas na área de psicologia e na arte de contar história, como oficinas e cursos de capacitação.
Criou também, com mais duas amigas¸ o Instituto Alif, espaço de terapia holística tradicional.  Após certo tempo não foi possível continuar. Além de terem pedido o local onde funcionavam, alguns profissionais foram morar fora.
A vida de Carmen Meneses não parou por aí. Dinâmica, apesar de sua limitação física por conta de uma artrite reumatóide que se iniciou ainda em sua juventude, quando tinha apenas 20 anos, e que, segundo afirma, “limita corporalmente a atividade motora muito mais que a cegueira”, ela não se curvou à doença, mostrando-se cada dia mais forte em espírito, para levar sua contribuição aonde dela necessitavam.  Assim, contribuiu com a Associação Maria Mãe da Vida, projeto que apóia meninas em situação de risco, sob a orientação dos Padres e Irmãs Camelianos. Foi convidada para ali realizar, ao lado de profissionais de outras áreas, um trabalho voluntário que viesse capacitar as jovens e resgatar sua autoestima. Utilizavam várias manifestações, como o teatro e tantas outras expressões artísticas, sempre em busca de resgatar nestas jovens seu valor como pessoa humana. Aprendeu muito com este trabalho. Algumas jovens que deixaram a Associação descobriram novo rumo na vida e trilharam um caminho inter profissional, buscando a inclusão.
Carminha, que se deleita com a música, quis também participar de diversos Corais. Fez parte do Coral da UNIFOR, que tinha como regente a Profª. Dalva Estela. Com este grupo fez algumas viagens para apresentações e cantou em vários locais públicos da cidade. Também foi membro do Coral do Pão de Açúcar, com ele apresentando-se no interior do Estado, sempre sob a regência do Prof. Valério dos Anjos.  Depois que perdeu a visão, participou do Coral Integração, da Sociedade de Assistência aos Cegos. Este Coral foi regido pelo Prof. Rocélio Gomes. Como se vê, podemos até afirmar que Carminha canta e encanta.
Não se pode deixar de citar também o Projeto Tapete Mágico, uma criação da Carmen Meneses com um grupo de amigos. Trabalham em creches, escolas, fazem seminários em Instituições diversas. São pessoas com formação diferente, utilizando-se de diferentes formas de manifestação artística. Este trabalho foi construído quase que de uma maneira informal e por meio dele o grupo tem a experiência de viagens por vários lugares do país.
Carmen participou ainda de seminários, congressos, viajando muito, e, conseqüentemente, enriquecendo-se no contato com as pessoas. Diz bem serena que “através destes encontros, transitando também por práticas espirituais, junto com aqueles que buscam uma compreensão melhor do mundo, tentando ver o positivo das pessoas e o conhecimento de si mesma, é que se toma consciência de que se pertence a uma história muito maior”.
E por aí Carminha vai fazendo digressões, soltando o pensamento, sonhando. E diz: “temos uma memória ancestral a resgatar. Na cultura que se vai acumulando por toda vida, tudo faz parte do tapete (razão de ser do tapete mágico) e, então, começa a ser tecido algo, a serem criadas várias coisas, ampliando o conhecimento. Mostra a riqueza do ser humano no contato consigo e com os demais. Ao contar uma história, por exemplo, utilizando-se de qualquer estilo literário, você está, na realidade, contando sua própria história”.
Dá, então, para entender a razão que leva Carmen a nunca parar. Foi fazendo outros cursos, dentre eles o da Arte de Contar Histórias e o Curso de Voz, algo bem dinâmico, como expressão dos seus sentimentos e sua visão do mundo.
E Carminha também não para de crescer. Se não cresceu na largura e na altura é porque não teve tempo. O crescimento Interior tomou conta de seu ser. Digo isso partindo de seu depoimento. Acompanhe.
“Tive a graça de receber a perda da visão”. Repito sua afirmativa: “Tive a graça de receber a perda da visão. Não fiquei depressiva. Deus abriu outras possibilidades. A percepção auditiva, sensitiva, sensibilidade corporal, intuição cresceram e o sentimento de desapego do que não é essencial na vida, até mesmo a visão. Neste momento fui levada ao Instituto dos Cegos. Lá aprendi a ver outras formas e maneiras de enxergar a vida, experimentar as mudanças ao lado de outras pessoas semelhantes a mim. Aquele espaço mostrou-me a possibilidade de ampliar nossas habilidades e talentos. Todos somos respeitados, porque não há diferenças – só externas e de ação – mas o ser humano é o mesmo. Tudo me levou a um crescimento interior muito grande, a ver algo muito maior do que o mundo em que vivemos. Descobri que é sempre possível ter a alegria de viver”.
E continua: “No Instituto aprendi com D. Josélia de Sá Almeida que quando a gente está fazendo o bem para os outros, não há espaço para a depressão. Portanto, entendo que devemos constantemente alimentar nosso coração, nossa vida. Ajudar as pessoas, o vizinho, o amigo, um passante, alguém que lhe procure por telefone”. Por fim, Carmen completa com chave de ouro, “quando se tem amor e fé e se aceita do jeito que se é, fica mais fácil ter a experiência de viver”.
A entrada no Instituto dos Cegos veio, portanto, ajudar Carmen a viver cada vez melhor. Ali, foi convidada para ser membro da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos - ALASAC, fundada em 2007, a primeira Academia de Letras e Artes só para pessoas com deficiência visual existente no Brasil e no mundo. É membro desta Academia desde 2010, ocupando a cadeira de número 20, que tem como patrono Antonio Bandeira, e sua Diretora de Comunicação. Neste ano, no dia 29 de abril, será publicado um poema de sua autoria, “Caderno Encantado”, no livro “Um Dedo de Prosa e Outro de PoesiaUma Antologia poética”, que será lançado no Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra, organizado pela Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF.  Carmen também publica mensalmente, desde 2013, uma página pessoal no facebook, “O momento do Conto”, com o objetivo de divulgar histórias da tradição oral de vários países.
Também neste ano, Carmen Meneses está sendo homenageada, junto com Heloisa Stangier e Tiane Nogueira, no VII ENCONTRO DE MULHERES QUE FAZEM A DIFERENÇA, promovido pela Sociedade de Assistência aos Cegos.
Foi neste espaço tão querido e saudável, em que teve oportunidade de conhecer várias realidades, muitas pessoas e instituições, e, inclusive, aprender fotografia para cegos, que Carminha “encontrou meios para que seja reconhecida e valorizada essa pessoa que se chama deficiente e que, na realidade, é uma pessoa bastante eficiente”. Afirma Carminha que não há limitações.
Carmen, não podemos deixar de destacar, gosta muito de ler, mas lamenta que a edição de livros áudios no país seja bem limitada. Mesmo assim continua adorando a leitura, comprando livros, indo a livrarias e as pessoas leem para ela. Sua cama está sempre cheia de livros.
Fica evidente, portanto, que Carminha não se deixou abater pelos revezes da vida. Seguiu inteira construindo seu sonho de um mundo onde todos tenham espaço para realizar-se como pessoa. Pinta e borda, poderíamos dizer, seja como força de expressão, seja pela força da realidade que apreendemos desta tão singela biografia. Viva, viva a Carminha!
Mas ainda não terminamos, pois não se pode escrever a biografia de Carmen Maria Ribeiro Gonçalves Meneses sem citar uma de suas maiores amigas, que também lhe ajuda a viver e que, neste ano, celebramos o V Centenário de seu Nascimento, Santa Teresa de Ávila. Carminha gosta da espiritualidade de Teresa, a santa e doutora Teresa de Ávila. Admira a simplicidade com que fala e seu amor a Deus, um amor tão direto. Curte seus ensinamentos. Para ela, “Teresa ensina de uma forma muito singela, muito bela, uma beleza interna que transmite de um jeito muito simples”. E completa: “Ela é muito fiel a esse amor, que viveu com singeleza e, ao mesmo tempo, com profundidade. Ela é atemporal. Trabalha com a espiritualidade que está além do aspecto rígido da religiosidade e é nisso que acredito”. Que esta mensagem da grande Teresa de Jesus fique gravada no coração de todos os amigos e admiradores de Carmen Meneses:

Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus nada lhe falta. Só Deus basta”.  Santa Tereza D'Avila


quinta-feira, 5 de março de 2015

MULHER ACADÊMICA

É feita de letras
para escrever as mais lindas histórias de amor;
É cheia de sons
para tocar corações com as melodias da paz;
E escultura da pureza
a moldar as mais leves formas de viver.
É coreografia singela
que nos faz dançar com a felicidade;
É peça teatral
que ilumina os que à assistem;
É cinema de emoção
que sempre ganha OSCAR da sensibilidade;
Mulher acadêmica
é a essencialidade em sua melhor performance
é a oitava arte  que leva inspiração
à todas as manifestações culturais da alma...

Paulo Roberto Cândido
Homenagem às mulheres da ALASAC
peço dia 08 de março de 2015.
 


domingo, 1 de março de 2015

O PROFESSOR POETA


Temos a honra de termos nessa instituição
um homem nascido  em Juazeiro do Norte.
Terra do famoso  "padim" Ciço e de muitos trovadores,
gente de muita importância  como a beata Mocinha,
Lampião com seus cangaceiros e sua Maria Bonita também
andaram por aquelas bandas do sertão caririense.
Paulo nosso poeta chegou  ainda criança em nossa capital.
Fortaleza o recebeu com muita cordialidade e não é que o menino
tinha nas veias a poesia escrita a lápis no caderno misturando
as disciplinas com o gorjear dos pássaros e olhar de cisma
Parabéns Professor Paulo Roberto
das meninas que na época já o achavam  bastante galanteador.
De lá para cá o mundo deu muitas voltas assim como a vida do
doutor Paulo de engenheiro elétrico passou a de professor
de Informática cujo o nome do programa se chama DOSVOX,
O que você deseja?
E tirando a brincadeira DOSVOX é um importante programa
para os deficientes visuais assim como o professor Paulo.
Hoje Paulo além de poeta com livro publicado
é também membro da Academia Metropolitana de Fortaleza-AMLEF.
É presidente da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência
aos Cegos-ALASAC.
É compositor das músicas do Maracatu Luzes da Alma e
também compõe a dramatização dos casamentos nas festas juninas da SAC.
E de lambuja ainda  escreve a letra das quadrilhas de São João.
É homem cheio de ideias para inclusão social da pessoa deficiente.
Ao comemorarmos o seu aniversário nos sentimos orgulhosos
de termos em nosso meio um homem simples, mais  educado.
Que entende bem de perto o problema da cegueira e sem nenhuma
choradeira faz versos rimando com brincadeira equilibrando com alegria
a sorte de sermos cegos e enxergarmos através dos nossos quatro sentidos                                             e sem contar com o colorido vistos por nossas almas e nossos corações.
Fátima Silva
02/03/15


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