No início de 2013 minha tia Abigail faleceu com quase 99 anos de idade.
Era irmã de meu pai, viúva e morava com minha outra tia, Rute, com 90 anos, fora professora em vários colégios do bairro, agora aposentada pelo município e INSS.
Como minha tia Rute era solteira e não tinha filhos, ficou aos cuidados do meus irmãos Antonio, Lúcia e eu.
Nós a chamávamos de Rutina. Durante o dia pagávamos uma pessoa para cuidar da casa, da alimentação, dos medicamentos e higiene pessoal de nossa tia.
Com a morte de sua irmã, Rutina acelerou o quadro do Mal de Alzheimer e complicações com diabetes.
Meu irmão Antonio ia todas as noites e eu revezava com minha irmã.
Havia noite em que não dormíamos pois nossa tia chorava, gritava, rasgava as fraldas, chegando até a cair da cama.
Eram noites insones, de aflição e muito cansaço físico e mental.
Certa noite dei um plantão "puxado" com minha irmã. Ao amanhecer estávamos exaustas e loucas para chegar em casa e repousar. Fomos para a parada do ônibus, eu fui para Terminal do Antonio Bezerra enquanto minha irmã pegou uma Topic - 055.
Ao chegar no Terminal me alegrei quando vi que tinha um ônibus parado da linha que passa quase em frente a minha casa.
Dei uma carreirinha e subi no tal ônibus vendo que estava lotado.
Quando o ônibus saiu do Terminal vi que havia um lugar vazio no corredor, devido a minha baixa visão não dava para ver quem estava sentado no assento da janela.
Cheguei ao tal lugar com a maior facilidade, as pessoas iam abrindo os espaços para que sentasse no tal assento.
Para minha surpresa tinha uma jovem sentada na assento da janela. Me sentei ao seu lado e olhei em torno e percebi que as pessoas me olhavam, talvez esperando que eu me levantasse do lugar.
A jovem dormia e balançava a cabeça sem controle, estava bêbada ou drogada. Suas coxas estavam à mostra devido a saia muito curta Os cabelos assanhados e um forte fedor de xixi. Com certeza era mais jovem que minha filha. Numa freada ela abriu os olhos, olhou para mim e deu um leve sorriso.
Tive uma imensa vontade de abraçá-la e aniná-la em meus braços.
Olhei para o relógio e pensei: - Nessa hora minha filha já saiu de casa, arrumada, perfumada, enfrentando o trânsito em seu carro com ar condicionado em direção ao seu trabalho.
Vi que minha parada estava próxima, peguei uma das mãos da jovem e a levei até ao meu peito.
Sob os olhares dos passageiros apertei a campainha e desci do coletivo com o rosto banhado em lágrimas de tristeza e cansaço.
Quanto a minha tia, nossa Rutina faleceu no dia 26.11.13.
Nenhum comentário:
Postar um comentário