Maria trabalhava numa empresa de médio porte como copeira e
outros serviços gerais: como varrer, lustrar os móveis dos escritórios. O que
chamava atenção na jovem mulher era o sorriso, pois estendia sua alegria nos
gestos, nos olhos brilhantes.
Morava na periferia, tinha quatro filhos e um marido
desempregado e alcoólatra. Mas, apesar dos infortúnios de sua vida doméstica
não levava para o trabalho nenhuma tristeza ou amargura, sua força de vontade
de ver seus filhos em outras condições sociais era bem maior.
Todo dia Maria batia seu cartão de ponto cantarolando uma
música ou contando uma boa piada. No andar térreo havia a loja e ao lado dois
galpões onde funcionava uma oficina, ela atravessava até uma escada que dava
acesso para o andar superior. Lá em cima tinha uma cozinha, uma espaçosa sala
de espera, com confortáveis poltronas, uma sala de reunião e três salas onde
funcionava o setor pessoal, contabilidade e faturamento.
Maria com sua alegria contagiante servia café, água com
solicitude as moças dos escritórios e descia as escadas com pressa para também servir
o exigente patrão.
Nas portas havia plaquetas indicando os setores,porém, Maria
era analfabeta e numa das salas havia
uma placa indicando: Arquivo Morto.
Somente duas pessoas entravam ali, a moça da contabilidade e
algumas vezes Maria era chamada para ajudar a pegar alguma caixa de arquivo
mais pesada, mas, logo a porta era trancada a chave.
Certo dia Maria foi chamada às pressas na sala da
contabilidade, um grande quantidade de caixas estavam empilhadas em cima de uma
mesa, então a moça falou:
- Por favor, Maria, me ajude a levar essas caixas até o
Arquivo Morto?
Maria fechou seu sorriso e empalideceu, gaguejando falou:
- Para onde a senhora quer que eu leve essas caixas? Meu Deus
do céu, que lugar é esse?
A funcionária quase sem acreditar no que ouvia, repetiu:
- Lá para aquela sala que é trancada, o Arquivo Morto.
Maria soltou as caixas no chão e começou a dar gargalhadas,
lágrimas escorriam dos seus olhos, ela não tinha condições de falar, pois
estava estarrecida com o que ouvira.
Depois de tomar dois goles de água, conseguiu falar:
- Eu nunca imaginei que esses documentos dentro dessas
caixas estavam Mortos!
Fátima Silva
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