sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Bengala Branca

Moro em frente a uma pracinha de um bairro da periferia. A praça poderia ser até muito bonita, mas devido o descaso das autoridades é mal cuidada; visitada a noite por vândalaos, marginais, pois estes tem a proteção das frondosas árvores que arborizam o local.
Certa manhã ouvi o tilintar de enxadas e vozes masculinas, eram homens capinando e varrendo em frente a minha casa. Faziam parte da limpeza urbana da Prefeitura.
Continuei com meus afazeres domésticos, pois tinha que logo mais sair, para mais um dia no Instituto Hélio Góes - SAC.
Envergando meu fardamento escolar abri o portão e o barulho fez com que os homens parassem e se calassem. Ao sair coloquei o cadeado no trinco do portão, empunhei minha bengala branca e fui saindo devagar.
Só se ouvia o vento misturado ao forte cheiro de cigarro no ar.
Andei em direção ao ponto do ônibus e senti naquele silêncio das enxadas e das conversas dos trabalhadores, o respeito, a indagação que uma bengala branca exerce sobre as pessoas.
Nas minhas idas e vindas para a Escola já ouvi alguém perguntar no terminal de ônibus:
- Quer ajuda? Anda sozinha por que não tem parentes?
Ao descer do ônibus dizem:
- Deus te acompanhe! Deus te guie!
Também já ouvi:
- Coitada! Anda sozinha, mas no dia de receber a aposentadoria os filhos e parentes brigam pra ir com ela.
Não ouviria esses comentários se não empunhasse a minha inseparável amiga: BENGALA BRANCA.

* * * *

Fátima Silva
21.10.10

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