domingo, 30 de novembro de 2014

EQUILÍBRIO É CERTO OU ERRADO?


Certa vez a turma da Reabilitação do Instituto Hélio Góes, junto com uma turma 6º. Semestre de Jornalismo da UFC fizeram uma Oficina, o tema era Radiodifusão. Foram feitas algumas dinâmicas e depois algumas perguntas.
Uma das perguntas era:
- Onde você gostaria de estar nesse exato momento?
A maioria das respostas, inclusive eu respondi:
- Gostaria de estar numa praia ao lado de uma pessoa que se ama, ou alguém querido da família.
Foram poucos os que responderam: Ouvir uma música, uma viagem...
O último a falar foi o professor de Informática Paulo Roberto. Ele respondeu assim:
 -Nesse exato momento eu não queria ir para lugar nenhum pois estou no lugar que gosto, o meu trabalho.
E acrescentou:
- Nós temos que ter um equilíbrio sentimental, emocional, laborial e financeiro. Muitas vezes estamos de frente para o mar com o coração tão angustiado que nem percebemos a beleza da Natureza que nos rodeia.
Veio outra pergunta o que é Certo ou Errado?
Hoje amanheci lembrando dessa aula.
Será que o nosso Certo está de acordo com o das pessoas que nos rodeiam. E o Errado?
Algumas convicções temos que abafar ou então seremos duramente criticados porque o nosso Certo está Errado.
Ah como seria bom vivermos numa Sociedade corretamente equilibrada. E não veríamos as questões das diferenças políticas, sociais, étnicas, culturais, religiosas.
A arrogância, a soberba domina nas classes políticas sociais. O preconceito se manifesta veladamente ou é acintosamente declarado nas etnias, nas deficiências físicas e intelectuais. A mulher, a criança, o negro, o gay, o evangélico, o ambientalista, os índios, os que moram em favelas, os nordestinos, a prostituta, o pobre, o morador de rua, são os alvos da marginalização.
Vi um vídeo na internet e depois assisti no Programa Encontro da Fátima Bernardes o ocorrido com uma jovem que foi duramente espancada por ser considerada a mais bonita de sua turma.
Quando se levanta uma bandeira sobre determinados assuntos como: virgindade, homossexualismo, menores infratores, temos que ter além de bons argumentos uma boa dose de equilíbrio ao ver pessoas que se dizem teus “amigos” pisotearem e incendiarem tua bandeira, ou talvez, chamarem a polícia por baderna.
Minha santa e amada mãe dizia em sua sabedoria de vida:
- Desde o começo dos tempos existe mulher que trai o marido, moça que engravida, padre que namora e homem que desmunheca.
Onde iremos encontrar essa manifestação de equilíbrio no trabalho, na faculdade, nas comunidades que vivemos?  Por que é tão difícil para as pessoas viver em harmonia consigo mesmo e contrabalançar as diferenças do outro.
Outro dia vi um jovem dentro de um coletivo cantando em voz alta, em inglês. Depois ele ligou para alguém e ficou falando em inglês, desligou e continuou a cantar em inglês.  Esse jovem não tinha nenhuma característica física ou nas vestimentas que fosse estrangeiro. As pessoas balançavam as cabeças outras diziam coisas tipo assim: - Além dessa lotação ainda tem esse doido cantando alto sem a gente entender uma palavra que ele diz. Quando ele se levantou para descer do coletivo eu vi um homem esmurrando o ar a ponto de pegar aquele jovem pela gola da sua camiseta e esmurrá-lo.
E aí é Certo nos irritarmos porque um jovem canta e fala em inglês ou é Errado escutarmos pacificamente sem demonstrar nenhuma reação contrária a atitude daquele jovem? No meu caso eu tive vontade dar uma boa gargalhada, mais seria Certo? Um jovem falando em inglês e uma mulher madura as gargalhadas dentro de um ônibus lotado por pessoas suadas, mal humoradas e outras apressadas para chegarem em seu destino?
Para encerrar acho que o Certo é como cantava nosso inesquecível Raul Seixas:
“Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela opinião formada sobre tudo”.
Fátima Silva

29/11/14

PEDIDO DE DESCULPAS

Gostaria de pedir desculpas aos meus leitores por ter excluído o texto literário  com o título de DOCES LEMBRANÇAS.
O ocorrido deu-se por eu ter encontrado dois erros de português e quando refiz o texto para rascunho não consegui fazer a edição no Blog como estava anteriormente.
Estou editando novamente no Word mas, como tenho baixa visão vai demorar um pouco.
E com isso vou publicar outro texto que acabei de editar.
Conto com a compreensão de todos.
Fátima Silva
30/11/14

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

VIVO


Cometi erros imperdoáveis;
Substitui valores insubstituíveis;
E tenho feito quase tudo por impulso.
Decepcionei pessoas que me não acreditei capaz
Matei, roubei e ri quando não podia.
Fui rejeitado, amado e não amei.
Gritei, pulei feito louco de tanta felicidade
Urrei e tranquei toda dor dentro de mim
E chorei ouvindo “Detalhes” do Roberto.
Poesia, pedaços de arte e paixões tórridas
Usei, usei mesmo quem se deixou usar.
Pensei fosse morrer de dor ao perder
Mas o fato disso não importa nem um pouco
Fez com que sobrevivesse e perdendo enriqueci
E com paixão e muito atrevimento
Cheguei onde estou:
Vivo!

Do Livro DESCONFORTO de Luiz Alberto Mendes Junior, também autor de MEMÓRIAS DE UM SOBREVIVENTE, TESÃO E PRAZER-MEMÓRIAS ERÓTICAS  DE UM PRISIONEIRO, ÀS CEGAS E CELA FORTE


domingo, 23 de novembro de 2014

ABORTO

Quando engravidei o aborto foi a primeira sugestão do meu namorado.
As alegações primordiais era o fato de estarmos em período de experiência nos nossos empregos.
O primeiro pensamento que me veio a cabeça foi que eu poderia morrer.
E apesar de saber que a qualquer momento minha mãe ia descobrir a gravidez, tentava convencer meu namorado a enfrentar a situação de outra forma, ou seja, nos juntarmos, procurarmos algum de nossos amigos ou familiares que entendesse a situação em que nos encontrávamos.
Com dois meses de grávida aconteceu um fato trágico na minha família. Uma prima, de trinta quatro anos falecera por conta de um erro médico numa cirurgia de períneo.
Ela tinha seis filhos.
Então ali ao lado do seu caixão tomei minha decisão. Eu iria ter meu filho.
Depois da missa de sétimo dia meu namorado me convidou para irmos a casa de um amigo dele. Era uma casa pequena, sentei num banco enquanto os dois conversavam em voz baixa em outro cômodo.
O homem se chamava Luiz e sentou ao meu lado e  perguntou:
- Há quanto tempo suas "regras" estão atrasadas?
Acho que fiquei branca como um papel, meus batimentos cardíacos ficaram acelerados e um turbilhão de pensamentos invadiram minha cabeça. Eu estava numa clinica clandestina de abortos.
O homem alisava o meu braço e falava que eu não ia sentir nada e sugeria que seria melhor fazer o procedimento num sábado para eu repousar. Ouvi muito longe a sugestão do valor a ser cobrado entre risos.
Minha filha Angélica Braga
Para surpresa dos dois homens eu me levantei e sai dali correndo, atravessei  uma larga avenida e subi em um transporte coletivo sem olhar qual era o destino, eu tinha que sair dali rápido. A vida que trazia em meu ventre estava em perigo.
No outro dia fui até a empresa que estava trabalhando e pedi minhas contas, saquei um dinheiro que tinha numa poupança na Caixa Econômica e fui para casa. Minha mãe falou alguma coisa por conta da minha magreza.
Minha irmã mais nova, Elizabete, casara e fora morar em Teresina-Piauí e estava grávida. Meus irmãos haviam comprado presentes para o primeiro neto dos nossos pais. Sem pensar duas vezes me ofereci para levar os presentes e conversar com minha irmã.
No dia 13 de dezembro de 1981, às 22:30 hs minha filha nasceu na cidade de Teresina pesando 2.450 kg e medindo 45 cm.Em homenagem a minha bisavó, avó do meu pai,  coloquei o nome dela de Angélica.
Com menos de um mês fui a um Cartório e registrei minha filha, sem o nome do pai.
Ao olhar para trás e lembrar os sofrimentos morais, financeiros e familiares, não me arrependo de ter tido minha filha sem casar.
Depois disso ao longo da minha vida vi jovens mulheres abortarem, uma colega de trabalho fez dois abortos num curto espaço de tempo, acompanhei o drama de uma mulher casada mãe de adolescentes ao praticar um aborto e ficar gravemente doente.
Optei pela vida.
Não foi fácil, trabalhei arduamente, tive poucas oportunidades de participar de festinhas na Escola de minha filha, minha mãe me representava.
O importante para mim ela estava ali do meu lado sobre minha responsabilidade de educá-la, vesti-la, ter o medicamento, a alimentação, o entretenimento.
Toda essa energia, essa força era o Amor e a Alegria de ser mãe, mesmo não sendo casada.

Fátima Silva
23/11/14

sábado, 22 de novembro de 2014

ACONCHEGO

Um riso, um brilho no olhar.
Um abraço apertado.
Uma mensagem no celular.
O grito de incentivo que diz em voz alta.
- Vai em frente! Vai dar certo!
Sem críticas, sem perguntas.
Um elogio.
- Nossa como você está bem!
Mesmo que as medidas tenham aumentado.
Ou que olheiras escureçam o olhar.
Não deixe que seu olhar venha a cair no surrado sapato ou,
na calça desbotada de bainha desfiadas.

Tenha sempre uma palavra de abraço,
de agasalho, de carinho.
Escute o soluço entalado na garganta.
Não se faça de invisível para quem te ama.
Abrace sempre as oportunidades.
Não olhe para o relógio com enfado.
Pois o tempo é implacável.
É rio que passa e não volta mais.

Fátima Silva
22;11;14

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SER CEGO - 4a. PARTE

SER CEGO – 4ª. PARTE

“Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei. Salmos 119:18”.
Em janeiro de 2011 por conta da oscilação da minha pressão arterial, minha filha me levou para morar em seu apartamento. Ali se iniciava um período de dores, angústias e surpresas.
Apesar de estar ao lado de minha filha, meu genro e meu neto eu não podia fazer as coisas que gostava, ou seja, ir para a SAC. Minha filha não deixava eu  sair sozinha porque eu teria que atravessar duas largas avenidas, então eu só  saia quando ela me levava de carro. Nessa época ela vendia confecções, era “sacoleira” então os horários eram muito diversificados.
Além de toda essa correria meu abençoado olho direito começou a me dar problemas, sendo necessárias, várias visitas ao meu médico doutor Adriano Almeida. Fui algumas vezes ao centro cirúrgico para ser examinada anestesiada, devido as dores que eram cruciais.
Em maio ainda comecei a ensaiar a quadrilha para as festas juninas, mais não aguentei. Em junho as dores eram insuportáveis mais mesmo assim no dia 30 de junho lá estava eu, com minha filha e meu neto Yuri no encerramento do semestre, para assistir meus colegas dançarem a quadrilha. Ao entrar na SAC encontrei-me com a dra. Cláudia do Serviço Social e ela me perguntou:
- Como está o seu olho?
Tirei os óculos escuros e mostrei para ela que logo me respondeu?
- Venha amanhã aqui muito cedo para o dr. Adriano ver esse olho.
Era uma sexta feira o dia 01 de julho de 2011. Quem estava no serviço social era a dra.  Socorro Alencar que ao ver o estado de vermelhidão e inchaço do meu olho me levou imediatamente para ser vista pelo dr. Adriano. Na ante sala do médico me encontrei com uma amiga cega, Eunice e como tínhamos levado meu neto minha colega ficou com ele enquanto conversávamos com o médico.
Depois de um demorado exame, o doutor afastou a cadeira e perguntou para minha filha:
- Você é filha, né?
E quase gaguejando falou:
- Aqui já não podemos fazer mais nada. Sua mãe está com o olho direito infeccionado e a única coisa a ser feita é a evisceração desse olho. Essa infecção pode se espalhar pelo corpo e ela ir parar numa UTI ou até vir a óbito.
Ouvi longe o soluço da minha filha e eu também gaguejando perguntei:
- O senhor faz esse tipo de procedimento?
Muito longe ouvi ele dizer:
- Fátima, converse com seus amigos que usam próteses, vai ser um alívio, você nunca mais vai sentir essas dores.
Ele me guiou até uma cadeira fez algumas anotações no computador e depois disse:
- A prótese interna eu lhe dou. Vamos até o serviço social falar com a dra. Socorro.
Minha filha falou para minha amiga Eunice e só então nós duas choramos abraçadas. Eu ouvi a voz do meu netinho chorando e dizendo:
- Não, não eu não aceito que façam uma coisa dessa com minha vozinha!
Foi marcada uma consulta com outro médico na terça feira (5), lá clínica da SAC, dali mesmo minha filha comunicou ao seu marido, meus irmãos e alguns amigos mais próximos. Me despedi de minha amiga Eunice e fomos para casa. Não tínhamos nada para conversar, sem contar a DOR. Doía o olho, o ouvido, os dentes, o maxilar e também a alma.
Na terça feira lá nós estávamos para falar com o tal médico, que para minimizar a situação me passou um tratamento através de uma pomada oftálmica durante dez dias. A pomada provocou uma alergia e meu olho ficou mais vermelho que estava, minha filha então ligou para o dr. Adriano que eu estava febril. Então foi marcada uma outra consulta na SAC com outro médico para ser confirmado o diagnóstico. O médico concordou com o diagnóstico que eu tinha que ser levada imediatamente para o Instituto José Frota –IJF, o maior hospital de emergência e urgência do Ceará, e procurar o dr. Abel, cirurgião oftalmologista.
Apesar de estarmos de férias todo dia recebia muitas ligações de meus amigos cegos e numa dessas ligações meu professor de Informática e Presidente da Academia da qual sou membro, ligou para me dizer que ele me daria a prótese externa, estética. Nessa ocasião pude sentir o quanto eu era querida e amada por tantas pessoas.
O procedimento de evisceração foi marcado para o dia 19.07, uma terça feira. Eu tinha que ir cedo e em jejum. Fomos deixar meu neto na casa de minha irmã e de lá saímos em direção ao hospital eu, minha filha sem condições de dirigir preferiu deixar o carro em casa, fomos com meu genro. O silêncio era palpável. O dr. Abel chegou às nove horas e eu fui a primeira a ser chamada. O médico fez um longo exame, se levantou e iniciou uma conversa assim:
- Ainda existe uma saída para esse olho! Existe um procedimento que não é feito aqui mais pode dar certo. Você faz e se não der certo, todas as terças feiras estou aqui nesse horário.
Eu e minha filha saímos dali quase correndo, apanhamos um táxi e fomos para a SAC para falar com a dra. Socorro e saber onde e como poderíamos fazer a tal Alcoolização. No dia 20/07 lá estávamos no Hospital Leiria de Andrade. Passei 1o. por uma triagem e marcaram meu retorno para o dia 26/07. Debaixo de uma angústia muito grande falamos com o dr. Gustavo e ele acatou de fazer o procedimento no outro dia, só com um detalhe tinha que ser particular, pois eu não tinha mais condições de esperar e pelo SUS ia demorar muito. Fomos para secretária tratar dos papéis para ser feita o procedimento que custava pela Fundação Leiria de Andrade o valor de R$ 800,00, minha filha ligou para meu genro, ele ia fazer um empréstimo no Banco, podia assinar os papéis. A secretária levou os papéis para o dr, Gustavo assinar e quando voltou falou para nós duas:
- Sua mãe é mulher de sorte, ela vai fazer pelo SUS, o dr. Gustavo fez uma troca de uma cirurgia eletiva e colocou sua mãe como de urgência.
No dia 27/07 fiz a Alcoolização que é um procedimento como de um canal num dente, é matar o nervo do olho. As chances são poucas mais no meu caso deu certo e até hoje, nunca mais meu olho direito doeu. A dor foi embora então era só felicidade, orações de agradecimentos, muitas felicitações mais o melhor ainda estava por vir.
No dia 25 de agosto é aniversário de nossa amiga Cris Pontes, e sua família ia fazer um jantar de surpresa para ela, então minha filha falou para mim;
- Mãe a senhora está tão bem, vamos para o jantar da Cris, nós vamos voltar cedo porque amanhã é sexta feira, todo mundo trabalha inclusive a Cris.
Então fomos, me acomodaram numa cadeira e eu comecei a sentir uma confusão na cabeça, comecei a ver uns vultos, as luzes do ambiente e de repente eu vi a cor das paredes do lugar onde eu estava as pessoas começaram a criar formas e cores. Meu neto foi até onde eu estava e perguntou:
- A senhora tá gostando vovó?
Então eu perguntei:
- Yuri as paredes são amarelas e tem um friso vermelho em volta, né?
O menino aquiesceu e saiu, sem notar o que eu perguntara. Fiz a mesma pergunta para minha filha, ela também não notou nada. Fui para casa e lá pude ver as imagens distorcidas da TV ligada, a tela do computador... Fui dormir.
No outro dia quando acordei vi o quarto do meu neto pintado de azul e pude ver o rosto do meu netinho que há seis anos eu não via. Não me contive e falei para ele que estava enxergando e ele me disse horrorizado:
- Vovó deixa de falar isso, ninguém vai acreditar na senhora;
Acho que ele pensou que eu tinha enlouquecido. Depois que ele saiu com o pai dele para o colégio peguei o controle da TV e li na tela: Alexandre Garcia. Fiquei algum tempo ali vendo o Bom Dia Brasil, a guerra do Iraque. Então o celular da minha filha tocou, levei-o até seu quarto e quando ela desligou eu falei para ela?
- Angélica eu estou enxergando pelo olho esquerdo!
Como era uma sexta feira tentamos entrar em contato com o dr. Adriano, então a consulta ficou para segunda feira. No domingo fomos para a Igreja Batista Central de Fortaleza, eu sem bengala, ainda um pouco zonza mais no geral estava bem. Na segunda feira (29) fomos para o dr. Adriano que ficou feliz ao me ver tão bem, então perguntou:
- E aí como você está, sem dores?
Então respondi:
- Eu estou bem, até enxergando eu estou!
Perplexo o médico aí foi que notou que eu não estava usando bengala e olhava para ele observando seu rosto que eu via pela 1a. vez. Depois de examinar meu olho esquerdo ele perguntou:
- Você já foi para alguma igreja agradecer o que aconteceu com você, porque eu mesmo não sei explicar o que houve. Acho que foi uma graça de Deus que você recebeu.
Ele prescreveu um exame computadorizado para ver a situação da córnea esquerda e o diagnóstico não mudou: Distrofia Corneana.
Meu diagnóstico: Olho direito cego. Olho esquerdo: Visão sub normal;              
O que vejo:  Todos 
os objetos que estão ao meu alcance, os ambientes onde estou, leio bula de medicamentos, qualquer letra de bíblia, na internet minha fonte é 18. Tenho uma boa mobilidade de dia e a noite tenho restrições por conta do alto astigmatismo, não necessito usar óculos de graus, somente os escuros durante o dia, quando estou fora de casa.
E Viva a Vida!
Fátima Silva

13.11.14

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A CHEGADA DA CEGONHA

Os raios de sol anunciavam que  seria
Maria Luíza com seis anos.
mais um dia quente, abafado.
Ninguém imaginava que o Dia
preparava a Noite, para um
grande acontecimento.
Ao anoitecer uma cegonha  apareceu no
meio de muitas estrelas . Após alguns
voos rasantes, vislumbrou o destino de
sua encomenda.
A velha e experiente cegonha, já estava
prestes a se aposentar.
Nos tempos atuais, só era requisitada
em casos especiais.
Como no contos de fadas transportava
uma frágil criança, para uma grande
missão.

Lá do ouviu as orações, as súplicas
pela chegada daquela criança.
A arquitetura do hospital transformou-se
num belo castelo e, impulsionou o
corpo e aterrissou.
Era o dia 09 de novembro de 2008.
Este dia vai ficar registrada nos anais
das cegonhas, já que esse método é
ultrapassado.
Só nos casos como o daquela criança:
UMA PRINCESA.
Da fantasia dos contos de fadas para
a realidade dos dias modernos,
MARIA LUÍZA.

Nasceu para fazer a diferença na vida
de sua mãe Aline Thereza, seus avós
Augusto e Bia, seus tios Rogério e Keyla
e o esperado Felipe.
Uma frágil criança, que pelas
circunstâncias da vida, chegou sem ser
esperada.
Para emocionar, sensibilizar e unir uma
Família.
Seus súditos acionaram os meios
de comunicações telefônicas e virtuais.
Não podia haver quebra no protocolo na
cerimônia de sua chegada.
MARIA LUÍZA:
Nasceu para somar, adicionar, acrescentar
Amor na sua família.
Veio sem avisar para diminuir nosso
Egoísmo, nosso Preconceito.
Ela multiplicou nossas Esperanças, nossas
Expectativas.
Dividiu o Tempo: Antes e depois de sua
chegada.
Um parêntese foi feito para admirá-la e,
um traço de união para niná-la.
Foram feitas muitas exclamações ao vermos
seu rostinho.
Com certo temor e tremor faço
uma interrogação:
- Meu Deus?
Que rebuliço gostoso.

Só Tu, meu Deus, na Tu infinita sabedoria
para fazer as  coisas perfeitas.
Que Deus Te abençoe, Maria Luíza.
Você não foi programada por sua mãe mas,
é um projeto de Deus.
Sua vida será um canal de benção na vida de sua mãe
e de toda sua família.
A cegonha que lhe trouxe  veio de carona
numa estrela.
Uma nuvem que ia passando aproveitou
para derramar uma chuva
de Esperança,
de Carinho,
de Amor.

Parabéns a cidade de Barbalha por ter uma
Princesa como cidadã, mas Juazeiro do Norte
preparou uma carruagem de Rainha
pata tê-la como filha.
O glamour de Maria Luíza
já é visto através
de suas fotos e, no mundo fashion os seus
modelitos são copiados por grifes famosas.
Já participou de alguns compromissos
sociais e foi vista no Shopping
Cariri, fazendo compras para o Natal.
In Loco: Com apenas 22 dias de vida.
Agende uma visita para conhecer a mais
bela Princesa desta geração.

01/12/08
Fátima Silva




ENCONTRO E DESENCONTRO

Numa ensolarada manhã, não lembro o mês,
era o ano de mil novecentos e noventa quatro,
quando conheci você, o vi chamar pela primeira vez.
Ouvi alguém chamar de Peixe, outro falou:
Pera aí motorista! Outro disse: - Siqueira!
Captei seu olhar, me espantei, fingi, ignorei.
O momento era difícil, complicado para mim.
não tinha cabeça para pensar em amor.
Mais passei a esperar todo dia  com ansiedade,
aquele horário, o momento em que descia,
e sentia seu olhar de homem, um companheiro?
ou até um marido, perguntava em meu íntimo.
Um dia esperei você não veio,
outro dirigia o cento dezenove.
Imediatamente minha mente foi tomada pelo desânimo,
tinha sido apenas uma ilusão passageira, um sonho.
Mas você voltou, meu coração pulou de alegria,
você sorria, falou algo sobre a multidão, não escutei,
fiquei tímida, envergonhada, mas era real.
Pegou pelo meu braço e atravessamos o pátio do Terminal
do Antonio Bezerra e subi pela frente do cento e dezenove.
Lá no meu lugar fui perdendo você de vista, pois
a multidão engoliu sua figura, a condução parou muitas e
muitas vezes, até chegarmos a BR cento e dezesseis.
Faltava apenas três paradas, meu coração batia  forte.
Ao descer disse; Muito obrigada.
Você respondeu:
-Até amanhã!
Foram muitas manhãs, e muitas noites também.
Dias de cumplicidade, outros de discussão.
Havia encontros e desencontros de idéias.
Momentos inesquecíveis, mas outros que foram
marcados pela dor das palavras, gestos inesperados.
Andamos de mãos dadas em jardins suspensos,
brincamos, você de bolha  de sabão e eu menina de amarelinha.
Esquadrinhamos os espaços siderais, submergimos em mares,
remamos em barcos, viajamos em pipas coloridas.
Por alguns fomos aceitos e amados, odiados e humilhados,
pisamos em charcos fétidos, caminhamos em campinas.
Você me deu estrelas e eu lhe dei o astro Rei.
Tivemos intimo contato com a Primavera que enfeitou
com flores nossa passagem, no Verão nossos pés
foram aquecidos pelo calor, e no Inverno nossas mãos
frias pela fonte de calor do nosso Amor.
Até que um dia subimos numa montanha russa,
andamos em círculos sem rumo, sem destino certo,
então descemos numa vertiginosa queda,
descarrilhamos sem freios, o medo nos dominou.
E nossa união ao chegar ao ápice, desmoronou
numa descida tão surpreendente,
que de tão parecidos que éramos, ficamos estranhos.
Deixamos de falar a mesma linguagem, os gestos,
a compreensão, os afagos, nossa intimidade,
desarticulou em palavras sem sentido, sem emoção.

Noutra manhã ensolarada, o mês lembro perfeitamente,
março de dois mil e cinco, me despedi de você.
Seus lábios tocaram os meus com ternura, o som fugiu
de sua garganta, um aperto no peito, uma ferida,
nesse exato momento estava sendo aberta.
Será acharíamos o antídoto, o remédio?
Como íamos puxar a espada da dor que,
vazava nosso peito, onde o sangue escorria
através de lágrimas que invadia e
inundava nossos corações.
Você caminhou de mansinho, seus passos eram indecisos,
esperou um último apelo, um pedido de: - "Não vá!" Volte!
Sua fisionomia, sua silhueta desapareceu
do meu foco visual e nunca mais o vi!

Uma chuva matutina  caia, era sete e trinta da manhã,
o mês era de junho, o ano dois mil e nove e a
data essa nunca esquecerei:
vinte oito de junho de dois mil e nove.
O telefone toca: - Quem será , tão cedo da manhã.
Atendo sem emoção e nenhum entusiasmo.
A notícia veio rápida através de um fio, uma voz
trêmula, indecisa, com rodeios,
que não sabia e nunca saberá, tocou na chaga,
na ferida, uma fonte de amargura transbordou.
Valderi Siqueira dos Santos, está morto!
Fui pessoalmente lhe dizer:  - Adeus meu amor!
Fui agradecer a Deus ao lado do seu corpo inerte,
os bons e maus momentos, as tristezas e alegrias.
E hoje escrevo para marcar nossos sentimentos,
e deixar bem claro para humanidade, para posteridade que,
o Encontro e Desencontro, pincelou nossas vidas e,
coloriu nossa história de Amor!

Fátima Silva
29/06/09


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O LUGAR VAZIO

No início de 2013 minha tia Abigail faleceu com quase 99 anos de idade.
Era irmã de meu pai, viúva e morava com minha outra tia, Rute, com 90 anos, fora professora em vários colégios do bairro, agora aposentada pelo município e INSS.
Como minha tia Rute era solteira e não tinha filhos, ficou aos cuidados do meus irmãos Antonio, Lúcia e eu.
Nós a chamávamos de Rutina. Durante o dia  pagávamos uma pessoa para cuidar da casa, da alimentação, dos medicamentos e higiene pessoal de nossa tia.
Com a morte de sua irmã, Rutina acelerou o quadro do Mal de Alzheimer e complicações com diabetes.
Meu irmão Antonio ia todas as noites e eu revezava com minha irmã.
Havia noite em que não dormíamos pois nossa tia chorava, gritava, rasgava as fraldas, chegando até a cair da cama.
Eram noites insones, de aflição e muito cansaço físico e mental.
Certa noite dei um plantão "puxado" com minha irmã. Ao amanhecer estávamos exaustas e loucas para chegar em casa e repousar. Fomos para a parada  do ônibus, eu fui para Terminal do Antonio Bezerra enquanto minha irmã pegou uma Topic - 055.
Ao chegar no Terminal me alegrei quando vi que tinha um ônibus parado da linha que passa quase em frente a minha casa.
Dei uma carreirinha e subi no tal ônibus vendo que estava lotado.
Quando o ônibus saiu do Terminal vi que havia um lugar vazio no corredor, devido a minha baixa visão não dava para ver quem estava sentado no assento da janela.
Cheguei ao tal lugar com a maior facilidade, as pessoas iam abrindo os espaços para que sentasse no tal assento.
Para minha surpresa tinha uma jovem sentada na assento da janela. Me sentei ao seu lado e olhei em torno e percebi que as pessoas me olhavam, talvez esperando que eu me levantasse do lugar.
A jovem dormia e balançava a cabeça sem controle, estava bêbada ou drogada. Suas coxas estavam à mostra devido a saia muito curta Os cabelos assanhados e um forte fedor de xixi. Com certeza era mais jovem que minha filha. Numa freada ela abriu os olhos, olhou para mim e deu um leve sorriso.
Tive uma imensa vontade de abraçá-la e aniná-la em meus braços.
Olhei para o relógio e pensei: - Nessa hora minha filha já saiu de casa, arrumada, perfumada, enfrentando o trânsito em seu carro com ar condicionado em direção ao seu trabalho.
Vi que minha parada estava próxima, peguei  uma das mãos da jovem  e a levei até ao meu peito.
Sob os olhares dos passageiros apertei a campainha e desci do coletivo com o rosto banhado em lágrimas de tristeza e cansaço.
Quanto a minha tia, nossa Rutina faleceu no dia 26.11.13.



domingo, 9 de novembro de 2014

SER CEGO - 3a. PARTE

"O essencial é invisível aos olhos"
Na segunda semana de janeiro de 2006 fui levada pela minha filha Angélica Braga para o meu 1o. dia de aula na Reabilitação do Instituto Hélio Góes da Sociedade de Assistência aos Cegos-SAC. Muito nervosa minha filha deixou-me aos cuidados da professora Cristiane. Fui levada a um pátio  e me sentei num banco de cimento. Ouvia uma algazarra de gritos, risadas e o toc, toc de bengalas.
Depois do toque da sineta todos ficaram calados enquanto alguém falava, hoje sei que era um professor. Depois fui levada para uma sala de aula e recepcionada por minha colega chamada carinhosamente de Help. Maria do Socorro (Help) fora professora de química da UFRJ e retornara para Fortaleza para ser cuidada por sua mãe, pois era diabética e estava cega.
Minha turma era composta de Ribamar, Tarcísio, Eunice, Leonardo (falecido), Alfredo, dona Francisca, dona Edite, eu e Help (falecida).
Passados os primeiros dias contratei o serviço de um transporte escolar. Meu irmão mais velho Augusto Silva colaborou com a compra da bengala e de um relógio sonoro.
Iniciei um novo tipo de leitura com os livros falado da Biblioteca, aulas de Braille, de Mobilidade, Informática. Como tinha computador em casa, minha filha baixou o programa DOSVOX, com síntese de voz.
Foi um ano muito difícil, vivia num mundo de vultos, sombras...
No dia 14 dezembro de 2006 meu médico, Waldo Pessoa, foi brutalmente assassinado em sua clínica.
A partir daí entrei num processo de depressão, pois o meu pai além de todas suas complicações pulmonares e cardíacas foi diagnosticado com o Mal de Alzheimer.
O ano de 2007 ficou marcado na minha vida. Eu vivia numa profunda tristeza, quase não ia mais para as aulas, nessa época eu já ia para Escola sozinha de ônibus.  Ouvi muitas barbaridades, imbecilidades, inclusive minha filha, pelo fato de sair sozinha. No 2o. semestre iniciei um tratamento de psicoterapia e em janeiro de 2008 voltei a frequentar as aulas regularmente.
Em 2006 quando tive acesso ao sistema DOSVOX comecei a escrever mais ninguém sabia dos meus textos, então em 2008, ia a julgamento o homem que havia assassinado o doutor Waldo. Eu tinha escrito um texto com o título DE OLHOS NA ESCURIDÃO.
Com muitas reservas mostrei para minha filha, perplexa ela me aconselhou a mostrar  na Escola o meu texto. Nunca senti tamanha emoção ao ouvir o que tinha escrito no auditório da Escola.
A viúva, dona Josélia Almeida, quis me conhecer e pediu permissão para que fosse feita uma panfletagem com meu texto no dia do julgamento.
Em maio de 2008, meu pai veio a falecer aos 91 anos. Houve uma preocupação entre os meus familiares, porque minha aposentaria tinha sido negada em todas as Instâncias, ou seja, eu era sustentada por meu pai. Em junho  ao dar baixa do seu benefício fui orientada pelo Serviço Social da Previdência Social a requerer para mim como pensionista por deficiência.
A mesma Junta Médica que negou minha aposentaria por invalidez me aposentou como pensionista do meu pai. Meu pai nunca me abandonou em nenhum momento da minha vida e ainda hoje sobrevivo financeiramente desse benefício.
Depois disso veio o convite para fazer parte de um projeto de termos uma academia de letras na SAC, com pessoas cegas. Meu livro AS AVENTURAS NOTURNAS DE SONECA E BOCEJO, já estava escrito, só faltava um patrocinador.
Então no dia 19 de setembro de 2008 fui empossada como membro da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos-ALASAC, tendo como patrono Francisco Waldo Pessoa de Almeida, cadeira no 4.
O ano de 2009 foi muito rico de aprendizado, participei de muitas oficinas, congressos, sessões na Assembléia Legislativa, tudo que envolvia a pessoa com deficiência, eu participava.
No dia 19 de setembro de 2010, Dia Nacional da Pessoa com Deficiência lancei meu livro infanto juvenil através da Editora Premius.
A minha apresentação foi feita por neto Yuri Braga.
Foi um dia inesquecível, Eu estava CEGA, mais produzia...
Senti o orgulho de minha filha, meu neto, genro, dos meus irmãos e amigos.
Pude mostrar para Sociedade que a pessoa cega enxerga com as mãos, com o olfato, com o paladar, com a audição e principalmente com os olhos da Alma.
Em 2011 voltei a enxergar...


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

COTIDIANO NO CENTRO DE FORTALEZA

Observando o centro de Fortaleza entre as ruas Liberato Barroso, Guilherme Rocha e General Sampaio, nota-se que esses trechos se transformaram em feiras livres, somente com uma diferença, não se vê venda de frutas e verduras.
As calçadas totalmente intransitáveis  devido o grande número de barracas coloridas, com diversidade de produtos no comércio informal, compatível com os pregões da Bolsa de Valores.
Os sons das mais variadas músicas, torna tudo uma algazarra entre o comércio ambulante e os clientes.
O vai e vem de pessoas debaixo do sol escaldante acelera a venda de água mineral e de coco.
Numa esquina sobre uma cadeira plástica uma grande caixa de isopor e lê-se: SELF SERVICE - Preço  R$ 5,00.
Um homem com voz efeminada grita:
- Olha o caldo!
- Olha a sopa!
No meio dessa barulheira escuto gritos masculinos que dizem:
- Me dá um quilo de banha, Maria!
Outra voz acrescenta:
Qual o preço da banha Maria?
Olho em direção aos gritos  e logo reconheço Maria.
Maria é de baixa estatura, cabelos longos tingidos de louros, com pontas descoloridas e quebradiças.
Mais o que chama atenção é a enorme barriga da mulher.
Caminha com passos lentos e um leve sorriso nos lábios.
A mulher usa uma blusa  muito ajustada no corpo e, com isso cada passo que dá sua barriga balança.
Com um sorriso no canto dos lábios reponde sem demonstrar nenhum complexo:
- Minhas banhas não estão à venda porque foi muito difícil consegui-las


sábado, 1 de novembro de 2014

SER CEGO - 2a. PARTE

"Em terra de cego quem tem um olho é rei".
Em 2003 fui trocar meus óculos e para minha surpresa e de toda minha família eu teria que fazer um re-transplante no olho direito.
Foi uma consulta rápida sem maiores explicações. O fato concreto era que eu estava com uma úlcera de córnea. O HGF há muito tempo tinha deixado de fazer transplantes de córnea, e agora?
Por indicação de uma médica amiga da minha família procurei o médico doutor Francisco Waldo Pessoa de Almeida, no Instituto dos Cegos como ainda hoje é conhecido.
De repente o passado voltava, fui encaminhada para uma fila de espera na Central de Transplantes  da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.
Minha vida deu uma reviravolta de 360 graus, novamente minha visão foi ficando comprometida numa velocidade galopante sem contar com as dores que era acometida, ou seja, havia uma ferida no meu olho.
Em janeiro/04 tive uma crise de dores terríveis então fui a clínica para ser novamente examinada pelo doutor Waldo. Nesse dia ele falou para minha filha:
- Veja a minha situação, são grandes as dores que sua mãe está sentindo e eu, só tenho uma córnea no Banco de Olhos. Eu acabei de receber uma criança vinda do interior que sofreu um acidente, estou num dilema sua mãe precisa ser operada com urgência mais a criança também.
Então ele prescreveu uns colírios e me colocou numa lista de espera com urgência na Central de Transplantes.
No dia 17 de fevereiro de 2004 fui re-transplantada. Entrei no centro cirúrgico sem saber que minha irmã Lúcia, que me acompanhava, tinha sido avisada que eu corria um sério risco, se o transplante não desse certo meu olho tinha que ser eviscerado.
Acompanhei todo procedimento acordada. Durante toda cirurgia ouvia-se uma música clássica no centro cirúrgico. Ouvi quando o doutor Waldo falou:
- Posicione a câmara pois iremos filmar.
A anestesista sussurrou no meu ouvido que iria aplicar uma medicação pois minha pressão arterial estava muito alta.
Depois daquele transplante minha vida mudou. Ficava horas e horas em repouso absoluto. O ano de 2004 ficou marcado na minha vida, eram idas e vindas a clínica e ao hospital para retirada de pontos, que não eram retirados devido a fragilidade do olho.  Meu olho era vermelho e até meu rosto era inchado. Comecei a usar óculos escuros, inclusive a noite.
A visão do olho esquerdo também estava comprometida devido a uma catarata e o astigmatismo incontrolável que devido a tudo isso me impedia de usar óculos de graus.
Em novembro/05 recebi o diagnóstico que o re-transplante sofrera uma rejeição e não havia mais nenhuma condição de se tentar fazer algum outro procedimento cirúrgico, meu nervo óptico estava muito comprometido.
Depois de mais de 30 anos eu voltava a ficar CEGA.
Em janeiro de 2006 ...

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