sábado, 25 de julho de 2015

NENÉN MEU IRMÃO MAIS VELHO


Um ano mais velho que eu.

Então chamei e ainda o chamo de Neném.

Era esperto, inteligente. Era não. Ainda é... Já com mais de sessenta anos.

Quando criança ia sozinho para o catecismo, para a Escola.

Imagine só, ia de ônibus, sozinho...  Deixar o almoço de nosso pai no bairro Mucuripe na

Usina do SERVILUZ!

Eu, tão cheia de temores, e ele, sempre tão corajoso.

Aos 11 anos foi de madrugada chamar a parteira para nossa mãe.

Nosso pai estava de plantão na Usina e nosso avô materno, estava velho, andava devagar.

Todos disseram:

- Vá, você é um rapaz!

Era muita coragem?!

Não tinha medo da noite e muito menos do escuro.

 Quando nossa mãe saía, ele ficava como dono da casa, nós tínhamos que obedecê-lo.

Era chamado pelos nossos avós e tios pelo nome: Francisco Augusto!

Quebrou o braço, e não chorou.

Por um mês desfilou com seu braço engessado, com pose de valente.

Assim como eu, gostava de ler.

Lia revistas em quadrinhos, Zorro, Fantasma, Super Homem.

Também lia revistas de Terror e do FBI.

O jornal Pasquim, a revista O Cruzeiro.

Ganhou uma caneta Parkison com o tinteiro de tinta azul.

A caligrafia era bonita, legível.

Exibia um relógio automático.

Fumava escondido, mas não por muito tempo, pois começou a trabalhar numa Seguradora,

por isso, vestia paletó e calçava sapatos sociais.

Era exímio datilógrafo.

Namorou, noivou e casou.

...

Já casado fez concurso para a EMBRATEL.

Tornou-se funcionário público federal.

 Não andava mais de ônibus, pois tinha carteira de habilitação.

 Viajava para São Paulo, imagine só, de avião!

Foi transferido para cidade de Juazeiro do Norte.

No trabalho se tornou um andarilho.

Conheceu palmo a palmo as estradas do Cariri.

O sertão de Pernambuco, do Ceará, da Bahia, sem contar as capitais.

Sentiu o sabor da carne de bode com leite de coco.

Da galinha caipira com farofa de cuscuz.

Tomou banho de cuia, mas se hospedou nos hotéis da Beira Mar.

Entornou goles de cachaça e bebericou uísque em reuniões sociais.

Dirigiu por muitas léguas, assim como, engoliu muita poeira nas estradas do sertão.

Tudo isso lá pras bandas do Cariri.

Cidadão de Juazeiro do Norte, diploma concedido pela Prefeitura por serviços prestados

àquela cidade.

Neném, meu irmão mais velho.

 ...

Aposentado.

Conectado a internet mas, continua a devorar livros, jornais e revistas.

Ávido por conhecimento, sedento por viagens literárias.

 Hoje, não fuma, não bebe... problemas de saúde.

Porém, se embriaga ouvindo Zé Ramalho, Elba, Geraldo Azevedo e outros da MPB.

Maria, ou melhor, Bia é sua esposa.

Rogério e Aline são seus filhos.

Maria Luíza e Felipe seus netos.

Neném, meu irmão mais velho.

Nascido em Fortaleza, hoje cidadão juazeirense.

Uma mistura de fortalezense com caboclo do sertão.

"Cabra" da peste, inteligente, corajoso.

 Sem medo do escuro e sem medo da noite.

 E como bom nordestino:

 - Oxente! Medo de quê? Somente dos castigos lá do céu!

 Esse é:

 Neném, meu irmão mais velho!

Fátima Silva

25/07/11

terça-feira, 21 de julho de 2015

A DAMA E O PALHAÇO


Mais uma história em cordel
Para o leitor vou narrar
“A Dama e o Palhaço”
Você vai se emocionar
É uma história real
Acompanhe o meu versar
A personagem principal
É mesmo, emocionante!
Brincalhão e atrapalhado
Carinhoso e extravagante
O palhaço que é portanto,
Sorridente e intrigante
Ele é um tanto patético
Meigo e atencioso
Delicado e dedicado
É um amigo zeloso
É alegre e despojado
E é muito carinhoso!
O palhaço é ingênuo
É inteligente e esperto
Ama criança e a respeita
Cuida e está sempre perto
Tem limite sua alegria
Coração roubado por certo
Enfim, nossa personagem
É muito fácil o vermos
Nas ruas, praças e feiras
E o riso satisfazermos
No circo, TV ou jornais
Rondando por perto termos
Alegre e extrovertido
Divertido, sorridente
Assim vemos o palhaço
Mais seu velho peito sente
Talvez, falta de um amor
Verdadeiro, realmente!
E é sobre este amor
Que esta história irá tratar
Uma dama que roubou
Desta personagem sem par
Seu coração e vida
O fez, a ela entregar!
Ele conheceu alguém
Com pouco tempo casou
Uma infeliz ideia
Que o palhaço pensou
Não construiu uma família
Pois a vida não deixou
A história deste palhaço
Já começou errada
Com esta mulher que ele
Muito se dedicava
Com carinho e atenção
O palhaço lhe prestava
Claro que ele também
Errava de vez em quando
Discutiam, não se entendiam
Desequilíbrio e desmando
Financeiro e profissional
Sentimental desandando
Neste pandemônio
O palhaço então conhece
Um “acidente” de percurso
Que o corpo não reconhece
Pois o braço do palhaço
Não mexe, desobedece
O mesmo sofreu uma,
Luxação reisidivante
Do ombro que várias vezes
Não foi à frente adiante
Deslocando-se 14 vezes
Dores “insuportantes”
Durante este período
O palhaço então sofria
Por um lado nosso artista
Sua alegria perdia
Temporariamente,
Pois outra alegria surgia!
Foi um momento difícil!
Desavenças e turbulência!
Separação na vida real!
Esta, com reincidência!
E inevitavelmente,
A famigerada carência
Desta primeira mulher
Após ele se separar
Questões de fé e de crença
O puseram a pensar
Se valeria a pena
De novo se apaixonar
Mais a vida continuava
Ele estava trabalhando
Num projeto social
Artes cênicas ensinando
E em um belo dia
Uma festa estava animando!
Era o dia das mães
Aquela data festiva
E em uma encenação
Em uma atitude altiva
Ele com uma flor
Presenteia sua diva
O palhaço que também
À dama fez-se entregar
Aquela rosa tão linda
Seus olhos fez-se brilhar
E ela viu o vazio
Um apelo para o salvar
Pois um grito de socorro
A dama diz que ouviu
Um pedido por amor
Por ajuda então surgiu
A dama falou que então
Ao palhaço não resistiu
Esta dama que ao palhaço
Teve grande admiração
Por este artista nato
Por sua dedicação
Diz que ele então roubou
Dela o seu coração
A dama também sofria
Com um infeliz casamento
Sem paixão e sem amor
Sem nem um sentimento
Pelo contrário brigas
Muitos desentendimentos
Ela teve quatro filhos
E um marido ausente
Não teve apoio deste,
Marido nunca presente
A família dela também
Tratou-a displicentemente
Ainda não se conheciam
A dama e o palhaço
Alguém os apresentou
E houve o desembaraço
Meus versos e inspiração
Neste cordel passo a passo
Na entrega da rosa
Que o palhaço doou
A dama também estava
Triste mais se transformou
Reagiu, e sua vida
Um outro rumo tomou
Enfim os dois no passado
Uma borracha passaram
Tentam vencer juntos hoje
A guerra que eles travaram
Separados sem saber
Que juntos eles ganharam
Uma vida melhor construíram
Vivem, mesmo, um grande amor
Juntos combinam e acordam
Do mínimo ou máximo valor
Não só financeiramente
Mais na fé, vida ou labor
Enfim nossas personagens
Não foram felizes antes
Mais ao se encontrarem
Com suas vidas errantes
Com certo tempo tomaram
Decisões muito importantes
A primeira foi então
O palhaço conversar
Com o líder religioso
Com a religião se “acertar”
E infelizmente ele teve
Que sem a mesma,ficar
Pelo menos por enquanto
Pois ele muito amava
E ama Jesus Criador
E outras decisões tomava
Buscar sua formação
Escolar que almejava
A dama e o palhaço
Estes se decidiram
Ele então afastou-se
Da religião e agiram
Ela deixou os filhos
E pra viver juntos partiram
A dama deixou sua casa,
O marido e uma vida
De sofrimento e de dores
Desta heroína aguerrida!
Medo, depressão e angústia
E uma guerra pedida
A guerra a que me refiro
Era a mesma de seu amor
O palhaço que também
Travava com muito ardor
Era construir na vida
Vida melhor,sim, senhor!
O palhaço também deixou
Para trás o seu passado
Deixou seu bairro e amigos
A fim de ser respeitado
De ser mais reconhecido
E também ser mais amado
O palhaço hoje, pois,
Tem duas formações
Um emprego razoável
Vive sem humilhações
Este, não precisa mais
De ouvir reclamações
A dama infelizmente
Está a perder a visão
Mais esta não se abala
Tem mesmo motivação
Vou dizer o que ela faz
Com muita disposição
Esta mulher senhores
Faz cursos interessantes
Violão, teclado, informática
Todos são instigantes
Hidroginástica e braile
Nunca praticados antes
Ela ainda é confrade
De letras da academia
De artes do Instituto
Dos Cegos, uma alegria
Uma realização
Que ela não imaginaria
A dama e o Palhaço
No cartório se casaram
E com as bênçãos do Senhor
Na igreja se apresentaram
E os seus laços do amor
Eles então reforçaram
Hoje, nossas personagens
Juntos felizes vivem
Estão bem financeiramente
E juntos tudo decidem
Juntos compram e pagam
Profissionalmente progridem
Juntos eles compartilham
Juntos tem religião
Vão á igreja sempre
Os dois tem o coração
Voltados para o Senhor
E para ajudar o irmão
Quem inspirou-me foi,
A dama desta história
Ela escreveu tudo
E poetizei na memória
O Senhor me abençoou
Á ela a dedicatória
Concluindo meu cordel
“A dama e o Palhaço”
De verso em verso escrevi
A história sem embaraço
Falei de sofrimento e amor
E a felicidade foi o traço
Falei de luta e trabalho
Falei de superação
De amor e sentimento
De fracasso e decisão
Falei de fé e de medo
De amor e união
História da autoria de MARIA DE LOURDES FERNANDES, acadêmica da ALASAC e versejado pelo cordelista ANTONIO MARCOS BANDEIRA.

sábado, 18 de julho de 2015

O CORDÃO DA MINHA VIDA


NO CORDÃO DA MINHA VIDA
MUITAS COISAS EU PASSEI
DESDE O MEU NASCIMENTO
DIFICULDADES, ENCONTREI
AO NASCER MUITO SAUDÁVEL
RAQUITICO DEPOIS FIQUEI
MINHA MÃE CONTA QUE EU
ERA MUITO MAGRINHO
DISSE QUE QUASE SEMPRE
AO OUVIR UM GEMIDINHO
ERA EU JÁ ARQUEJANDO
MORRENDO DEVAGARINHO
TIVE VÁRIAS DOENÇAS
SARAMPO E CATAPORA
TIVE PAPEIRA E OUTRAS
ESTAS EU NÃO LEMBRO AGORA
VIVIA NOS HOSPITAIS
INTERNADO MUNDO AFORA
MAIS, DESTA FASE PASSEI
CONSEGUI SOBREVIVER
NA ESCOLA SEMPRE FUI
UM EXEMPLO A MERECER
ELOGIOS E PARABENS
SEMPRE ESTUDEI PRA VALER
MAIS EU NÃO CONSEGUI
APRENDER A MATEMÁTICA
A QUIMICA OU O INGLÊS
FISICA QUE NÃO É ESTÁTICA
NÃO APRENDI BIOLOGIA
MAIS SOU BOM NA INFORMÁTICA
VENDI TAPIOCA E BANANA
NAS RUAS ONDE MORAVA
FUI CAMELÔ NA CIDADE
E FRUTA TAMBÉM COMPRAVA
VENDIA COM MEU PAI NOS BAIRROS
E CEDINHO EU TERMINAVA
VENDI BOMBONS NA PRAÇA
NOS ÔNIBUS, NA ESTAÇÃO
VENDI PIMENTA E ALHO
SOU PALHAÇO E TENHO AÇÃO
FIZ TEATRO E SOU ATOR
FORMADO NA ATUAÇÃO
VIAJEI PELO PAÍS
QUINZE ESTADOS CONHECI
DOIS ANOS PELAS ESTRADAS
MAIS EU NUNCA ME ESQUECI
DE MINHA FAMILIA QUERIDA
DE ONDE SEMPRE PARTI
ESTE CONTATO QUE TENHO
COM MINHA FAMILIA QUERIDA
MEUS PAIS, IRMÃOS E PRIMOS
O MAIOR VALOR DA VIDA
OS AMO DE CORAÇÃO
CHORAVA NA DESPEDIDA
EM QUALQUER LUGAR QUE EU FOSSE
RODOVIÁRIA E MUSEU
TEATRO MUNICIPAL
EU DIZIA, QUEM FUI EU!!!
LIGAVA PRA MINHA MÃE
A QUAL NUNCA ME ESQUECEU
QUANDO ADOLESCENTE EU
FUI ENTÃO ACOMETIDO
POR UMA DOENÇA TERRIVEL
ALCOOLISMO DESMEDIDO
QUANDO EU TENTEI PARAR
JÁ ESTAVA “DESTRUÍDO”
TIVE UM AMOR PLATÔNICO
SOFRI, E NÃO FUI AMADO
POIS EU AMEI MUITO ALGUÉM
MAIS NÃO FUI RECOMPENSADO
ELA NÃO QUIS MEU AMOR
FUI SER, POIS, EMBRIAGADO
PERDI ENTÃO O QUE ACREDITO
SER DE MAIOR IMPORTÂNCIA
A DIGNIDADE E A FÉ
O RESPEITO E A RELEVÂNCIA
DE SE TER A MORAL
A PRIMEIRA EM NOSSA INSTÂNCIA
DAI AOS DEZENOVE ANOS
FUI PELA SOCIEDADE
DESPREZADO E ESCURRAÇADO
NAS MARQUIZES DA CIDADE
FUI LEVADO AO CHÃO
ESQUICIDO E ESMULAMBADO
MAIS, MAIS UMA VEZ, SENHORES
POR DEUS EU FUI RESGATADO
TIVE AJUDA DE ALGUÉM
NO MOMENTO DESEJADO
EU QUIS, ENTÃO A MESMA
HOJE, SOU UM FELISARDO
APRENDI O PORTUGUÊS
NO QUAL HOJE SOU FORMADO
TENHO PÓS-GRADUAÇÃO
SOU MUITO REQUISITADO
NÃO APRENDI A HISTÓRIA
MAIS ELA TENHO ESTUDADO
MARIA DE LOURDES FERNANDES
ESTA É A MINHA AMADA
É MINHA ESPOSA QUERIDA
MINHA AMIGA E NAMORADA
MINHA COMPANHEIRA DE FÉ
MEU CONFORTO NA ESTRADA
NA LONGA ESTRADA DA VIDA
E NESTE CORDÃO SEM FIM
TEMOS O SENHOR JESUS
COM SEUS ANJOS QUERUBINS
ARCANJOS E NOSSO DEUS
A NOS GUIAR SEMPRE ASSIM
DA LÍNGUA PORTUGUESA
HOJE SOU PROFESSOR
SOU PROFESSOR DE TEATRO
DO CORDEL QUE TEM VALOR
PROFESSOR DE INFORMÁTICA
PALESTRANTE E PESQUISADOR
HOJE SOU DO VARAL
DO BRASIL REPRESENTANTE
DA SUIÇA NO BRASIL
DA CULTURA ESTIMULANTE
PROFESSOR DE LITERATURA
DA ARTE SOU ATUANTE
ESTES VERSOS QUE ESCREVI
É O CORDÃO DA MINHA VIDA
PARTE DE UMA GRANDE ROLO
QUE PENDURA MINHA LIDA
FIO DE VÁRIOS QUILÔMETROS
DE CORDA JÁ PERCORRIDA.
MARCO ANTONIO BANDEIRA, poeta, cordelista, professor de Português, palestrante, professor de teatro e correspondente da Revista Varal do Brasil em Genebra-Suíça.
Fortaleza - Ceará - Brazil.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

APRISIONAMENTO DE EXPRESSÃO


    Vivemos em um País democrático, onde a liberdade de expressão é  uma
conquista coletiva de grande valor. Aqui nos expressamos sem censuras  e
embora tenhamos de respeitar as Leis que controlam o teor de  dignidade,
respeito e justiça no nosso expressar, falamos e escrevemos  à  vontade,
seja em jornais, letras de músicas, entrevistas e conversas ao redor das
mesas, mesmo que, às vezes, confundamos liberdade com libertinagem.
    Nascido na geração em que nasci, pude vivenciar um Brasil  de  bocas
amordaçadas, porém não caladas e uma  era  de  redemocratização  com  os
discursos livres podendo retornar à Pátria sem medos da ditadura.  Antes
era a censura militar, depois mente, coração e língua pra que te quero.
    Ser livre para pensar, falar e agir,  tornou-se  uma  realidade  nos
dias de hoje, seja qual for o espaço,  a  lente,  o  microfone,  a  rede
social, a conexão, lá estamos nós ferindo ou sendo feridos por essa  tal
liberdade de expressão. Ainda bem que a China não é aqui, assim, podemos
arregimentar  as  marchas  apologistas  e  extravasar  nosso  idealismo,
ufanismo, consumismo, realismo, modismo, abismo e tantos outros  "ismos"
que abraçamos sem medo e  muitas  vezes,  até  sem  convicções.  Viva  a
liberdade de se expressar!
    Após esvaziar o pote das reflexões sobre a liberdade  de  expressão,
vou encher outro  pote  com  as  reflexões  sobre  o  aprisionamento  de
expressão. E o que é mesmo esse tal de aprisionamento de  expressão?  No
limiar do pensamento do escritor é a essência que nos leva a  "amarrar",
"prender", "ancorar" e quaisquer formas de atrelar as nossas  expressões
às cadeias de nossas crenças, de nossas filosofias, verdades individuais
e consciência cósmica. A prisão da expressão, aqui significa que  vou  à
parada disso, à parada daquilo, a marcha daquilo outro, mas sempre preso
no que realmente acredito,  prego  e  pratico.  É  o  aprisionamento  da
expressão que se liberta para expressar a transformação.
    Em tempos duros e violentos, pobres  e  sanguinolentos,  com  poucas
penitenciárias e muita marginalidade impune, venho eu pedir pelo menos a
aprisionamento da expressão, assim, o juiz da  minha  alma,  o  juiz  da
minha palma, irão compreender que preciso da liberdade de expressão para
manifestar minha honra,  minha  ética  e  minha  plenitude,  que  sempre
estarão presas à minha identidade, sem precisar de  alvarás  de  soltura
advindos da hipocrisia. Preso no que expresso,  me  liberto  com  o  que
confesso. Viva o aprisionamento da minha expressão! O que  falo,  o  que
penso, o que sinto, o que  faço  e  o  que  escrevo,  certo,  errado  ou
iludido, está preso à uma estrutura que não se corrompe, não se alia  às
incoerências ou se acomoda nas influências. Na minha terra se diz que  é
ter "sangue no olho".
     Vou utilizando a liberdade de expressão com  a  sensatez  de  estar
aprisionado ao que professo  e  Graças  à  Deus,  vou  construindo  esse
presídio, como posso, como mereço,, mas sempre  com  a  certeza  de  que
quero me espelhar no maior Libertador que já apareceu no mundo, para nos
prender à tudo aquilo que nos libertará.
Paulo Roberto Cândido
Presidente da ALASAC -Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos 
e membro da AMLEF.
1,55 GB (10%) de 15 GB usados

segunda-feira, 13 de julho de 2015

RIFA

Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário. Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado, coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...". Um idealista... Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras. Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo. Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções. Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: " O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer". Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente. Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo. Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância de se aventurar como poeta.
Clarice Lispector

segunda-feira, 6 de julho de 2015

IDADE MIL

Eu teria a idade mas pura, dos encantos mil, dos sem medo e sem destino.
Teria a idade que a esperança me desse; teria a idade que os sonhos me permitissem.
Teria a idade que me levasse com asas enormes para voar por terras desconhecidas e encantadoras.
Se eu não soubesse que idade tenho.
Seria meu próprio mestre nas descobertas mais incríveis, e inventaria um mundo novo todos os dias.
Não teria tanto medo se pudesse rever todas as cenas que vivi, e torná-las las novamente parte integrante do meu todo.
Eu teria as mais belas palavras para dizer quando soubesse que elas faltariam
E deixaria também o silêncio me roubar o ar quando fosse preciso.
Se eu não soubesse a idade que eu tenho
Teria todos os encantos do mundo, e mais uma cores para distribuir por aí onde tudo fosse só sombra.
Teria a energia que eu gostaria de ter, junto da paciência que tantas vezes me faltou.
Se eu não tivesse a idade que eu tenho
E se eu não soubesse quantos anos eu tenho
Eu teria, ou pelo menos buscaria ter,
A idade da sabedoria para os dias difíceis.
A idade da confiança para a dúvida interminável.
A idade da maturidade para os momentos mais complicados.
A idade tranquilidade para quando tudo fosse uma eterna confusão.
Tudo isso eu teria nos meus anos mais dourados, diversas fases do tempo que me consumiria...
Se eu não soubesse a idade que eu tenho...
Essas seriam as idades que eu teria.
(Autor Desconhecido)

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