terça-feira, 2 de dezembro de 2014

DOCUMENTOS MORTOS?


Maria trabalhava numa empresa de médio porte como copeira e outros serviços gerais: como varrer, lustrar os móveis dos escritórios. O que chamava atenção na jovem mulher era o sorriso, pois estendia sua alegria nos gestos, nos olhos brilhantes.
Morava na periferia, tinha quatro filhos e um marido desempregado e alcoólatra. Mas, apesar dos infortúnios de sua vida doméstica não levava para o trabalho nenhuma tristeza ou amargura, sua força de vontade de ver seus filhos em outras condições sociais era bem maior.
Todo dia Maria batia seu cartão de ponto cantarolando uma música ou contando uma boa piada. No andar térreo havia a loja e ao lado dois galpões onde funcionava uma oficina, ela atravessava até uma escada que dava acesso para o andar superior. Lá em cima tinha uma cozinha, uma espaçosa sala de espera, com confortáveis poltronas, uma sala de reunião e três salas onde funcionava o setor pessoal, contabilidade e faturamento.
Maria com sua alegria contagiante servia café, água com solicitude as moças dos escritórios e descia as escadas com pressa para também servir o exigente patrão.  
Nas portas havia plaquetas indicando os setores,porém, Maria era analfabeta e numa das salas  havia uma placa indicando: Arquivo Morto.
Somente duas pessoas entravam ali, a moça da contabilidade e algumas vezes Maria era chamada para ajudar a pegar alguma caixa de arquivo mais pesada, mas, logo a porta era trancada a chave.
Certo dia Maria foi chamada às pressas na sala da contabilidade, um grande quantidade de caixas estavam empilhadas em cima de uma mesa, então a moça falou:
- Por favor, Maria, me ajude a levar essas caixas até o Arquivo Morto?
Maria fechou seu sorriso e empalideceu, gaguejando falou:
- Para onde a senhora quer que eu leve essas caixas? Meu Deus do céu, que lugar é esse?
A funcionária quase sem acreditar no que ouvia, repetiu:
- Lá para aquela sala que é trancada, o Arquivo Morto.
Maria soltou as caixas no chão e começou a dar gargalhadas, lágrimas escorriam dos seus olhos, ela não tinha condições de falar, pois estava estarrecida com o que ouvira.  Depois de tomar dois goles de água, conseguiu falar:
- Eu nunca imaginei que esses documentos dentro dessas caixas estavam Mortos!

Fátima Silva

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