domingo, 7 de dezembro de 2014

DOCES LEMBRANÇAS



Quando crianças morávamos numa pequena casa, mas, o quintal...
Eu avô paterno era funcionário da LIGTH e como tinha um salário mensal comprou um terreno na Rua Sabino Monte. Essa propriedade ele colocou no nome dos cinco filhos, na época menores de idade.
Lembro que ao sairmos da casa para o quintal tinha diversas fruteiras: siriguela, cajá, muitos coqueiros, mangueiras, sapotizeiros sem contar as criações de galinhas, patos, porcos.
Nossa mãe contava que criara cabras e bodes, não lembro.
No quarteirão da Sabino Monte até a Eduardo Bezerra era somente de dois proprietários, meu avô Manuel Sabino do Nascimento, negro, alto, sempre vestido com camisas de mangas compridas, usava também um chapéu, nos pés alpargatas de couro cru. 
O outro proprietário era “seu” Alfredo a quem tínhamos de dar a benção, ao qual ele respondia com voz abusada:
- Deus te leve para o céu!                                                                                                                           Aos domingos meu avô e minha avó iam para 1ª. Missa, ele de roupa de linho muito bem passada e o chapéu que usava nessas ocasiões era de “massa” comprado na Casa Bicho. Ela vestia vestidos de mangas compridas de tecido gorgorão com enfeites de bico inglês.
Na frente de nossa morava nossa avó paterna, Maria Nunes, viúva, alta, de cor branca e olhos azuis, muito respeitada também por ser uma exigente, rígida na educação dos filhos. Aos domingos ela também ia pra a 1ª. Missa com minha tia Rute. Ela usava vestidos pretos por ser viúva, em casa tinha vestidos floridos de pretos e com mangas compridas. Quando criança nunca vi os braços e somente o tornozelo das minhas avós.
A água era retirada de cacimbas, quando meu pai estava de folga, ele também trabalhava na LIGTH, trazia a água em latas de flandes e enchia os potes. As mulheres carregavam as latas na cabeça onde se protegiam do peso com rodilhas de pano.
Nossa rua não tinha energia elétrica, usávamos lamparinas a querosene. Brincávamos a luz do luar, víamos as estrelas como um bordado no céu. Mas, um dia nosso pai trouxe a boa nova nossa rua ia ter energia. Vimos a colocação dos postes na época de madeira outros de ferro. Como nosso pai era funcionário ele não ia pagar energia então as primeiras casas a ter luz elétrica foi a nossa, do meu avô e o papai mandou instalar na casa de sua mãe Maria Nunes, ele pagaria.
Durante o dia corríamos naquele quintal, subíamos em árvores, os meninos soltavam pipas ou brincavam de bolinhas de gude. As meninas brincavam de bonecas de pano ou de casinhas. Todos começaram a estudar aos sete anos sabendo ler e escrever, nossos pais gostavam muito de ler. Papai todo dia comprava um jornal matutino ou o vespertino. Líamos historinhas de fadas, príncipes e princesas, depois nosso pai começou a comprar revistas para o meu irmão mais velho: o Zorro, Batman e também revistas do Walt Disney. Papai e mamãe liam as revistas Cruzeiro e também Detetive, essa era terminantemente proibida de lermos pois se tratava de crimes que aconteciam aqui no Brasil e no exterior.



Nosso pai as vezes nos levava ao escritório da LIGHT para receber, quem sempre o acompanhava era meu irmão mais velho, cedo ele aprendeu a andar sozinho no Centro. Nossa tia Rute também nos levava ao Centro para comprar tecidos nos armazéns, sabonetes e perfumes na Perfumaria Eva.
Lembro com emoção o dia em que fui assistir o filme A NOVIÇA REBELDE com meu pai no cine São Luiz.
Certa vez fui a um passeio com minha tia Rute, ela era professora então fomos para a praia do Mucuripe, fui toda arrumada de sapato e meia, banho de mar nem pensar.
- Só se for para passar a noite dando trabalho com crise de asma!
Papai no Natal comprava presentes para todos nós, da Estrela, certa vez meu irmão mais velho ganhou um trem e eu e minhas duas irmãs ganhamos bonecas que abria e fechava os olhos.
A noite quando fomos dormir ouvi minha mãe dizer para meu pai:
- Não compre mais boneca para Fátima, ela está ficando uma mocinha.

Fátima Silva












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