sábado, 13 de novembro de 2010

Diferenças sociais não impedem o aborto

O embrião que não se tornou bebê

Lurdes chama a patroa até o seu quarto às sete horas da manhã. Se queixa de fortes dores no estômago. Acredita que tenha sido alguma comida que lhe fez mal.
Com compreensão a patroa fala para Lurdes:
- Se você não melhorar vai ter que ir para o hospital.
Lurdes se deita novamente na cama e diz que logo, logo vai melhorar.
Por volta de 11 horas da manhã a patroa vai até o quarto de Lurdes. Fica assustada como a moça estava pálida e toda encolhida na cama. Chama sua filha Renata e uma amiga para levarem Lurdes para um hospital. Com uma certa relutância Lurdes aceita ir, mas acha que não é necessário. As três entram no carro e saem em direção a um hospital público das redondezas do bairro. Na metade do caminho Renata que vai na direção toma um susto com o grito de Lurdes. Esta levanta as duas pernas e as apoia no painel do carro. Ouve-se um barulho estranho e o carro é tomado por um cheiro extremamente desagrádavel.
A amiga de Renata pergunta aflita à Lurdes:
- Você está abortando Lurdes? Que água é essa que está molhando o banco do carro?
As três mulheres falavam todas ao mesmo tempo. Lurdes ainda tentou se justificar dizendo que não sabia que estava grávida. Seguiram para uma maternidade pública. Lurdes prontamente foi atendida enquanto as duas moças esperavam notícias lá fora e tentavam esconder que as suas roupas estavam molhadas e com mal cheiro da bolsa que havia rompido dentro do carro.
Depois do atendimento Renata foi chamada pelo médico para dar explicaçõres sobre o aborto de Lurdes. Para surpresa de Renata e a amiga, Lurdes já estava com mais ou menos 5 meses de grávida. O bebê já estava formado, era um menino.
Lurdes havia tomado na noite anterior uns comprimidos e chá de ervas amargas. A desculpa que Lurdes dera, depois que voltou para casa era que já tinha um filho pequeno que a mãe dela criava, então o jeito que encontrara fora em abortar.
Quando terminou os 30 dias de resguardo Lurdes foi embora do emprego. Disse que estava com vergonha e já tinha arranjado outro emprego em outra casa de família.
Passados alguns meses Renata encontrou-se com uma amiga em comum de Lurdes. No decorrer da conversa Renata pergunta:
- E a Lurdes? Como vai no emprego?
A outra responde com muita naturalidade:
- Ela foi despedida porque fez um aborto no banheiro da casa da patroa.
A idade de Lurdes? Apenas 20 anos.

* * * *

04.11.10
Fátima Silva

Nota:

Resolvi escrever o texto acima há alguns dias, porém coincidentemente uma semana depois houve aqui em Fortaleza a prisão do médico Dionísio Broxado Lapa Filho acusado pelo crime de prática ilegal de aborto através de uma investigação realizada pelo Ministério Público , que recebeu o nome de Operação Exterminador do Futuro. Veja aqui mais detalhes sobre este caso.

Nas eleições passadas o aborto foi um dos assuntos mais discutidos pelos candidatos à presidencia. Reuniões de lideranças católicas, e evangélicas e outros segmentos da sociedade se reuniram, enfim ambas as partes entraram num acordo. Os dois
candidatos eram contra a lei para a legalização do Aborto. A sociedade deu um suspiro de alívio. Foram as urnas votar.

E as Lurdes da vida o que acharam?
Será que no momento das eleições estavam em algum banheiro sangrando ou até mesmo numa maternidade fazendo uma curetagem por ter praticado mais um aborto? Será que irão justificar o por que não foram a seção eleitoral votar?

Já as "madames" clientes do Dr. Dionísio Lapa não tiveram este problema, pois suas "intervenções cirúrgicas" eram antecipadamente agendadas e programadas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...