Eram três meninas e dois meninos.
Raimunda tinha 16 anos, Graça 14 anos e
Dorinha 12 anos.
José 17 anos e João Maria 13 anos.
Aos domingos dona Conceição com seu marido
José Maria iam para a primeira missa e junto levavam toda a família.
"Seu" Zé Maria trabalhava numa fábrica de móveis e era muito rigoroso
na educação dos filhos, as meninas, então, o cuidado era dobrado. Ele avisava
para a mulher: - Cuidado com essas meninas Ceiça, tão ficando mocinhas e hoje
em dia só tem "cabra" sem vergonha nesse mundo.
A noitinha sentava na calçada para conversar
com seus vizinhos que comentavam sobre política, futebol e sobre os salários
baixos.
Num certo domingo ao saírem da missa
"seu" Zé Maria foi abordado por um jovem de bigode fino, roupa de
linho muito bem passada e o cabelo bem penteado. O jovem estava
acompanhado de uma mulher gorda vestida de preto da cabeça aos pés. O jovem
pigarreou e falou:
- Bom dia "seu" Zé Maria gostaria de
ir hoje à noite em sua casa com minha mãe.
O homem nem deixou o rapaz terminar de falar e
grosseiramente respondeu:
- Não lhe conheço, então não tenho nenhum
negócio a tratar com você, rapaz.
A mulher com o terço cruzado entre os dedos
respondeu no mesmo tom:
- "Seu" Zé Maria sou a viúva do
Tião, que trabalhou a alguns anos com o senhor e esse é nosso filho Zequinha.
O homem fez um aceno com a cabeça de
consentimento, deu bom dia e foi embora com uma ruga na testa de preocupação.
Ao chegar em casa entrou no quarto acompanhado de dona Conceição. Os filhos não
deram nenhuma importância para a visita da tal viúva e seu filho, mas as
meninas foram trocar seus vestidos domingueiros com um sorriso maroto nos
lábios. Raimunda já tinha visto os olhares de Zequinha em sua direção nos
domingos passados no decorrer da missa.
Dona Conceição entrou no quarto das meninas
sem bater e foi logo falando: - O que você andou fazendo Raimunda? Andou se
encontrando escondido na saída da escola?
Virou-se para outra filha e aos gritos disse:
- Gracinha, o que sua irmã andou fazendo, tá de namoro escondido com aquele tal
rapaz?
E com o dedo em riste saiu do quarto falando
alto: - Depois dessa visita de hoje, cada uma vai levar uma surra, para deixarem
de serem sonsas.
Eram 18:00 quando a viúva e filho chegaram na
casa de "seu" Zé Maria. As meninas estavam no interior da casa e
somente José, o filho mais velho teve autorização de ficar na calçada para
participar da conversa.
A mulher de pé falou com voz grave e
destemida: - "Seu" Zé Maria, o meu filho quer pedir permissão para
namorar com sua filha Raimunda. Quero lhe dizer que meu filho é um rapaz
trabalhador assim como foi o pai, e eu passo o dia costurando para nos
mantermos com honradez.
O homem deu um pigarro para perguntar: - E de
onde seu filho conhece Raimunda?
O rapaz respondeu prontamente com um sorriso
nos lábios: - Aos domingos na igreja, já até me confessei porque quase não
assisto mais a missa direito, Raimunda é muito bonita.
O homem fez outra pergunta: - Em que o senhor
trabalha e em quanto tempo pensa em se casar?
Zequinha respondeu: - Trabalho numa drogaria e
penso em me casar o mais rápido possível, eu e minha mãe estamos
juntando um dinheirinho
para essa ocasião.
Zé Maria falou para o filho: - Chame sua irmã
Raimunda.
Raimunda apareceu na calçada muito pálida,
seus cabelos eram aloirados e sua trança brilhava sobre a luz mortiça do poste.
O pai olha para a filha e diz: - A partir de
hoje você está namorando com o filho do meu colega de trabalho falecido a
alguns anos. Não quero nada de encontros escondidos, durante a missa de domingo
você pode ficar do seu lado e a noite ele vem até a nossa casa para lhe
namorar. Agora vá para dentro de casa.
Raimunda junto com sua mãe começaram a bordar
lençóis, camisolas, toalhas, guardanapos, toalhas de mesa. Quando completou os
seis meses de namoro Zé Maria chamou Zequinha e perguntou: - O senhor já tem
uma data para marcar o noivado?
Prontamente Zequinha respondeu: - Daqui a
quinze dias, amanhã vou encomendar as alianças.
Raimunda estava exuberante no seu vestido
simples e sua trança dourada com uma aliança na mão direita.
Certo dia Zé Maria vinha do seu trabalho e viu
Zequinha numa roda de amigos. O olhar de Zequinha cruzou o olhar com o do seu
futuro sogro, que lhe fitou e foi embora sem cumprimentar o jovem. Ao chegar em
casa o homem chamou a mulher no quarto e lhe disse; - Chame sua filha e lhe
diga que o noivado dela está terminado. Aquele camarada é um moleque, tava numa
esquina bebendo numa roda de amigos. É um “cabra” safado.
Prontamente a mulher chamou a filha e lhe
disse o que acontecera, a moça começou a chorar pedindo a sua mãe que falasse
com seu pai para dar mais oportunidade a Zequinha, afinal ele estava apenas se
divertindo com os amigos.
Nesse intervalo ouve-se um bater de palmas
acompanhado de um: - Oi de casa! Era Zequinha.
Zé Maria saiu para a calçada e expulsou
Zequinha sem dar nenhuma oportunidade ao rapaz de se defender.
Daquele dia em diante Raimunda deixou de ir a
escola e também não ia mais para a missa, ficava emburrada no canto da cozinha
catando o feijão para o almoço.
Com a desfeita Zequinha foi embora com a mãe
para outra cidade e por lá casou.
Zé Maria um dia quando ia sair para trabalhar
teve um infarto e morreu. Com o choque da morte do marido dona Conceição ficou
doente dos nervos, ora chorava, ora ficava de olhar duro sem sair do lugar.
Os irmãos de Raimunda foram casando, inclusive
o caçula.
Quanto a Raimunda ficou sozinha com a mãe
doente, ainda demonstrava nos traços do rosto fino que fora uma bela moça.
A noite deitava a mãe e ia para seu quarto,
fechava a porta e abria uma caixa grande que escondia debaixo da cama. Tirava o
vestido de noiva e o vestia, se deitava e dormia.
Uma manhã Raimunda foi encontrada morta,
tivera um ataque cardíaco, igual ao que o pai tivera no passado.
Raimunda estava vestida de noiva com sua longa
trança de cabelos brancos e a aliança na mão direita.
Fátima Silva
27/02/15
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