segunda-feira, 14 de março de 2016

A JARARACA E O TUCANO

                       
    Conta a lenda que em um País da América do Sul, bonito por  natureza
e adormecido pela esperteza  dos  seus  políticos,  uma  jararaca,  nome
popular e comum dado a várias espécies de serpentes venenosas,reaparecia
dos bastidores das notícias para  virar  personagem  da  minha  presente
fábula. As principais espécies  são:  jararaca-verde,  jararaca-da-seca,
jararaca-do-norte, jararaca-ilhoa, jararaca-da-mata, jararaca-cruzeira e
jararacuçu, porém a jararaca desta fábula é uma nova espécie descoberta,
após a visita de alguns agentes federais  ao  seu  ninho-esconderijo:  A
jararaca-falante.
    Essa serpente foi encontrada fora do seu habitat natural,  que  é  a
floresta vermelha encantada, local onde  ela  fala  pelos  cotovelos;  E
cobra tem cotovelo?, bem, é uma maneira de dizer do que fala sem parar e
de escrever com mais senso de humor. Ao perceber que  estava  acuada,  a
jararaca-falante  ainda  tentou  destilar  o  seu  veneno,    mas    foi
coercitivamente convencida à acompanhar os seus caçadores federais  para
uma conversa afiada ou quem sabe, trancafiada.
    Depois de todos os procedimentos legais,  estudo  das  famílias,  da
ordem, da subordem, do gênero e da peçonha, com o  devido  enquadramento
na Lei da Natureza incorruptível, a serpente foi liberada, mesmo havendo
o risco dela sair por aí  falando  "cobras  e  lagartos"  do  Judiciário
Florestal.
    Não deu  outra.  A  jararaca-falante  procurou  logo  a  imprensa  e
convocou uma entrevista coletiva e claro,  no  seu  habitat  natural,  o
escritório central da floresta vermelha encantada e sem nenhum direito à
perguntas  investigativas  concedido  aos  jornalistas   e    repórteres
presentes.  Ela  começou  seu  discurso  inflamado,  conclamando  outras
serpentes para se unirem e se manifestarem contra aquele ato  arbitrário
e injusto de  levá-la  aos  costumes,  sem  os  costumeiros  acertos  de
surdina.
    Enquanto falava do seu passado de serpente engajada em lutas sociais
pela melhoria de vida dos bichos trabalhadores, oprimidos pelas  classes
dos lucros animais,  um  tucano  que  vivia  na  selva  de  pedra,  mais
precisamente, na cobertura de um belo edifício de frente para a floresta
neoliberal das privatizações, acompanhava  atentamente  a  oratória,  ou
seria falácia, daquela  articulada  jararaca-falante.  Quanto  mais  ela
falava de seus feitos políticos,  de  sua  grande  capacidade  de  fazer
alianças com pequenos roedores e grandes ratazanas, o  tucano  ficava  à
imaginar o perigo que seria aquela serpente na floresta  neoliberal  das
privatizações e passou a enviar  "wathsapp"  aos  seus  companheiros  da
selva de pedra, convocando-os para organizar um manifesto empresarial  à
favor do impedimento do estabelecimento daquela jararaca-falante  e  dos
seus aliados no meio da floresta que eles controlavam com tanto zelo, ou
seria com tantos zeros($$$)?.
    Ainda bem que diante daquelas ações  orquestradas  por  serpentes  e
tucanos, formigas, abelhas, cupins e outros bichos  bem  organizados  em
suas comunidades, passaram a se comunicar através das "redes florestais"
e agendaram uma grande  manifestação  dos  habitantes  da  floresta  dos
conscientizados e antenados, para que toda  a  sociedade  protetora  das
vontades animais de transformação, mostrasse aos  tucanos,  jararacas  e
seus aliados, que ali, existiam  muitos  bichos  de  orelhas  que  sabiam
pensar e agir, respeitando as instituições e os moradores daquele  País,
já cansados de tantas enganações de  aves  e  répteis  que  resolvem  se
aventurar nos  caminhos  de  um  poder  que  corrompe  e  que  se  deixa
corromper.
    Talvez, os maiores  perigos  escondidos  nas  sombras  de  todas  as
florestas desta fábula, nem sejam as jararacas-falantes, nem os  tucanos
com grandes e leves bicos que dão falatório e sim, as velhas raposas que
sempre procuram estar perto dos que comandam o poder e as cínicas hienas
que se lambuzam com as fétidas e lucrativas  propinas  que  grassam  por
debaixo dos panos.
    Os personagens aqui  imaginados  e  as  coincidências  com  qualquer
história real, fazem parte das inspirações que se mantém preservadas  na
floresta da criação literária e esta humilde fábula  tem  por  objetivo,
fazer as crianças de cada um acreditar que todos nós  viveremos  um  dia
felizes para sempre, sem jararacas, tucanos, raposas, tubarões, hienas e
outros bichos menos votados, ganhando eleições ou notoriedade midiática.


                                  FIM

Autor; PAULO ROBERTO CÂNDIDO

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