Francisca e Mazé eram irmãs e conversavam na porta do casebre onde moravam. Os pais das jovens tinham ido para fila do carro pipa, no centro do lugarejo.
Os vestidos eram surrados, cabelos compridos, olhos grandes, eram magras, pálidas, porém, bonitas. Francisca tinha 17 anos e Mazé 16 anos. Somente elas duas e os pais escaparam da seca, da pobreza e da fome. Francisca segurava nas mãos uma revista velha, sem capa. Ela folheava e suspirava ao ver as roupas bonitas, mulheres lindas e sorridentes. Quase num sussurro falou para a irmã: - Tô pensando em ir embora daqui. A irmã respondeu: - Eu quero ir também, você me leva?
A outra fez um sinal pois ouviu o rangido da carroça, eram os pais das moças trazendo a água.
Passava da meia noite quando as duas moças abriram a porta da frente do casebre e se embrenharam no mato com passos firmes e decididos. O plano de Mazé era chegar no posto de gasolina, pedir uma carona e ir para uma cidade onde pudessem trabalhar, eram acostumadas no trabalho pesado desde de criancinhas.
Quase ao meio dia as duas moças se aproximaram do posto de gasolina, estavam suadas e com os pés cheios de bolhas.
Zezão era motorista de caminhão há muitos anos, já vira de tudo nessa vida. Elas arregalaram os olhos quando viram na frente delas aquele enorme homem com uma faca na mão. Com dureza Zezão falou: - Subam no caminhão sem gritar, ou então, mato as duas, agora.
Zezão deu uma marmita de comida e água. Elas comeram devagarinho saboreando cada colherada de comida, cada gole de água. Quando terminaram de comer Zezão estendeu uma mochila e disse: - Aí dentro tem umas roupas e sandálias. Ah! Tem também escovas de pentear, detesto mulher assanhada. Vou sair mais volto logo.
Os olhos de Francisca brilharam quando viu as calças jeans, a camiseta decotada e calcinhas transparentes. Calçou as sandálias e começou a pentear seus longos cabelos e disse para a irmã: - Não tenha medo, nosso plano vai dar certo com certeza esse moço vai nos arranjar um trabalho, então pagamos as roupas, não é?
Mazé balançou a cabeça dizendo sim mais seus olhos estavam assustados.
Quando Zezão voltou levou as duas moças para uma pousada ali perto e só saíram a noite. Via-se que o andar das duas moças já não eram tão firmes e decididos como quando fugiram de casa. Dali foram para um restaurante, as mesas lotadas de homens e mulheres. Zezão não tirava os olhos de cima de Mazé pois notava-se claramente o medo nos seus olhos.
Já era de madrugada quando Zezão levou as duas para a cabine do caminhão, Francisca estava completamente bêbada enquanto a irmã soluçava baixinho. Ele deixou as duas na cabine e foi deitar numa rede embaixo da carroceria.
No outro dia Zezão foi para a pousada, lá tomaram banho e foi servido um reforçado café. Ao terminarem o café o homem fala: - Para o quarto as duas!
Mazé deu um gemido baixinho o que fez com que o homem puxasse seu cabelo e com raiva diz: - Se choramingar vou lhe dar uma surra!
Na horário do almoço Zezão deixa as duas moças sozinhas, trancadas, senta numa mesa e come vagarosamente. Volta ao quarto com duas marmitas e fica olhando para a rua enquanto as duas moças comem. A noite vão para o restaurante, essa rotina segue por cinco dias. Quando as moças saem do quarto da pousada Zezão pede um jantar ali mesmo e depois diz: - Vamos viajar para São Paulo, a farra acabou.
Foram três dias de muita velocidade.
Francisca e Mazé cochilavam quando Zezão falou: - Acordem meninas, chegamos em São Paulo e um belo trabalho espera por vocês. Venham conhecer D. Sinhá, ela já está a espera de vocês.
Ao lado do posto, um prédio de dois andares com a pintura descascada e uma placa onde lia-se Boate Bonequinhas do Sertão. As moças foram recebidas por uma senhora gorda vestida em uma roupa larga estampada, no rosto uma maquiagem extravagante. Zezão apertou a mão gorda da mulher em despedida.
Abriu a carteira deu um dinheiro para Francisca e fez um afago no rosto de Mazé e em voz alta disse: Adeus!
Fátima Silva
13/04/15
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