Algumas pessoas conhecidas me intitulam de "mulher guerreira".
Talvez por ter criado uma filha sem a presença do pai. Ou quem sabe, por ter enfrentado a cegueira por duas vezes.
Os chamados guerreiros sempre estão na linha de frente, principalmente nas crises do dia-a-dia.
Ao guerreiro é dado uma lança para atingir seus adversários, só que essa arma nunca pode ferir,é trocada por um sorriso cativante ou uma palavra de consolo.
A armadura do guerreiro são longos braços para abraçar e mãos para acariciar.
Sua cabeça tem que ser protegida por um capacete de sabedoria para aconselhar intervir em discussões e ser sempre apartidário em situações de conciliações.
Ao soar o clarim de uma trégua tem que sair a procura dos despojos, dos que ficaram caídos sem forças para caminhar e os feridos que esperam socorro e alento para seus gemidos de dores.
A guerra de ser mãe solteira e a cegueira são distintas porém, as duas levam a mesma vertente chamada: Preconceito.
Alguns dias atrás conversando com uma senhora, o assunto era sobre família, em dado momento ela perguntou:
- E seu marido?
Eu respondi:
- Sou solteira, não tenho marido.
A mulher desconcertada pediu desculpas e se calou; de mansinho foi conversar com uma mulher CASADA. Ela nem percebeu meus olhos marejados de lágrimas atrás dos meus óculos escuros.
Em 2011 vivi o drama de um diagnóstico onde teria que eviscerar meu olho direito. Devido a infecção sentia dores cruciais no maxilar, nos dentes, no ouvido e no olho. Travei uma grande batalha comigo mesmo para amenizar o sofrimento da minha família.
Hoje ao ver meus amigos que são eviscerados na Sociedade de Assistência aos Cegos, acho que fui dramática, pois lá estão eles felizes, uns escondem suas próteses atrás de lentes escuras outros enfrentam a situação com naturalidade e olhar vítreo.
Como diz o ditado popular: "estou no tempo das vacas gordas".
Tempo de Paz.
As guerras que me rodeiam não são minhas mais aqui acolá escuto bombas em minha volta.
Aprendi que nessas horas usa-se dois potentes argumentos: Ouvir e Silenciar.
Quando era criança era mais chorona que minhas duas irmãs.
Continuo chorona, as lágrimas só são perniciosas quando são para chantagear.
As lágrimas fazem parte do arsenal do guerreiro pois além de esvaziar as emoções transmitem doçura ao sofrimento alheio.
Fátima Silva
23.01.15
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