quinta-feira, 16 de julho de 2015

APRISIONAMENTO DE EXPRESSÃO


    Vivemos em um País democrático, onde a liberdade de expressão é  uma
conquista coletiva de grande valor. Aqui nos expressamos sem censuras  e
embora tenhamos de respeitar as Leis que controlam o teor de  dignidade,
respeito e justiça no nosso expressar, falamos e escrevemos  à  vontade,
seja em jornais, letras de músicas, entrevistas e conversas ao redor das
mesas, mesmo que, às vezes, confundamos liberdade com libertinagem.
    Nascido na geração em que nasci, pude vivenciar um Brasil  de  bocas
amordaçadas, porém não caladas e uma  era  de  redemocratização  com  os
discursos livres podendo retornar à Pátria sem medos da ditadura.  Antes
era a censura militar, depois mente, coração e língua pra que te quero.
    Ser livre para pensar, falar e agir,  tornou-se  uma  realidade  nos
dias de hoje, seja qual for o espaço,  a  lente,  o  microfone,  a  rede
social, a conexão, lá estamos nós ferindo ou sendo feridos por essa  tal
liberdade de expressão. Ainda bem que a China não é aqui, assim, podemos
arregimentar  as  marchas  apologistas  e  extravasar  nosso  idealismo,
ufanismo, consumismo, realismo, modismo, abismo e tantos outros  "ismos"
que abraçamos sem medo e  muitas  vezes,  até  sem  convicções.  Viva  a
liberdade de se expressar!
    Após esvaziar o pote das reflexões sobre a liberdade  de  expressão,
vou encher outro  pote  com  as  reflexões  sobre  o  aprisionamento  de
expressão. E o que é mesmo esse tal de aprisionamento de  expressão?  No
limiar do pensamento do escritor é a essência que nos leva a  "amarrar",
"prender", "ancorar" e quaisquer formas de atrelar as nossas  expressões
às cadeias de nossas crenças, de nossas filosofias, verdades individuais
e consciência cósmica. A prisão da expressão, aqui significa que  vou  à
parada disso, à parada daquilo, a marcha daquilo outro, mas sempre preso
no que realmente acredito,  prego  e  pratico.  É  o  aprisionamento  da
expressão que se liberta para expressar a transformação.
    Em tempos duros e violentos, pobres  e  sanguinolentos,  com  poucas
penitenciárias e muita marginalidade impune, venho eu pedir pelo menos a
aprisionamento da expressão, assim, o juiz da  minha  alma,  o  juiz  da
minha palma, irão compreender que preciso da liberdade de expressão para
manifestar minha honra,  minha  ética  e  minha  plenitude,  que  sempre
estarão presas à minha identidade, sem precisar de  alvarás  de  soltura
advindos da hipocrisia. Preso no que expresso,  me  liberto  com  o  que
confesso. Viva o aprisionamento da minha expressão! O que  falo,  o  que
penso, o que sinto, o que  faço  e  o  que  escrevo,  certo,  errado  ou
iludido, está preso à uma estrutura que não se corrompe, não se alia  às
incoerências ou se acomoda nas influências. Na minha terra se diz que  é
ter "sangue no olho".
     Vou utilizando a liberdade de expressão com  a  sensatez  de  estar
aprisionado ao que professo  e  Graças  à  Deus,  vou  construindo  esse
presídio, como posso, como mereço,, mas sempre  com  a  certeza  de  que
quero me espelhar no maior Libertador que já apareceu no mundo, para nos
prender à tudo aquilo que nos libertará.
Paulo Roberto Cândido
Presidente da ALASAC -Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos 
e membro da AMLEF.
1,55 GB (10%) de 15 GB usados

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...