domingo, 23 de novembro de 2014

ABORTO

Quando engravidei o aborto foi a primeira sugestão do meu namorado.
As alegações primordiais era o fato de estarmos em período de experiência nos nossos empregos.
O primeiro pensamento que me veio a cabeça foi que eu poderia morrer.
E apesar de saber que a qualquer momento minha mãe ia descobrir a gravidez, tentava convencer meu namorado a enfrentar a situação de outra forma, ou seja, nos juntarmos, procurarmos algum de nossos amigos ou familiares que entendesse a situação em que nos encontrávamos.
Com dois meses de grávida aconteceu um fato trágico na minha família. Uma prima, de trinta quatro anos falecera por conta de um erro médico numa cirurgia de períneo.
Ela tinha seis filhos.
Então ali ao lado do seu caixão tomei minha decisão. Eu iria ter meu filho.
Depois da missa de sétimo dia meu namorado me convidou para irmos a casa de um amigo dele. Era uma casa pequena, sentei num banco enquanto os dois conversavam em voz baixa em outro cômodo.
O homem se chamava Luiz e sentou ao meu lado e  perguntou:
- Há quanto tempo suas "regras" estão atrasadas?
Acho que fiquei branca como um papel, meus batimentos cardíacos ficaram acelerados e um turbilhão de pensamentos invadiram minha cabeça. Eu estava numa clinica clandestina de abortos.
O homem alisava o meu braço e falava que eu não ia sentir nada e sugeria que seria melhor fazer o procedimento num sábado para eu repousar. Ouvi muito longe a sugestão do valor a ser cobrado entre risos.
Minha filha Angélica Braga
Para surpresa dos dois homens eu me levantei e sai dali correndo, atravessei  uma larga avenida e subi em um transporte coletivo sem olhar qual era o destino, eu tinha que sair dali rápido. A vida que trazia em meu ventre estava em perigo.
No outro dia fui até a empresa que estava trabalhando e pedi minhas contas, saquei um dinheiro que tinha numa poupança na Caixa Econômica e fui para casa. Minha mãe falou alguma coisa por conta da minha magreza.
Minha irmã mais nova, Elizabete, casara e fora morar em Teresina-Piauí e estava grávida. Meus irmãos haviam comprado presentes para o primeiro neto dos nossos pais. Sem pensar duas vezes me ofereci para levar os presentes e conversar com minha irmã.
No dia 13 de dezembro de 1981, às 22:30 hs minha filha nasceu na cidade de Teresina pesando 2.450 kg e medindo 45 cm.Em homenagem a minha bisavó, avó do meu pai,  coloquei o nome dela de Angélica.
Com menos de um mês fui a um Cartório e registrei minha filha, sem o nome do pai.
Ao olhar para trás e lembrar os sofrimentos morais, financeiros e familiares, não me arrependo de ter tido minha filha sem casar.
Depois disso ao longo da minha vida vi jovens mulheres abortarem, uma colega de trabalho fez dois abortos num curto espaço de tempo, acompanhei o drama de uma mulher casada mãe de adolescentes ao praticar um aborto e ficar gravemente doente.
Optei pela vida.
Não foi fácil, trabalhei arduamente, tive poucas oportunidades de participar de festinhas na Escola de minha filha, minha mãe me representava.
O importante para mim ela estava ali do meu lado sobre minha responsabilidade de educá-la, vesti-la, ter o medicamento, a alimentação, o entretenimento.
Toda essa energia, essa força era o Amor e a Alegria de ser mãe, mesmo não sendo casada.

Fátima Silva
23/11/14

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