Vivemos em um País democrático, onde a liberdade de expressão é uma
conquista coletiva de grande valor. Aqui nos expressamos sem censuras e
embora tenhamos de respeitar as Leis que controlam o teor de dignidade,
respeito e justiça no nosso expressar, falamos e escrevemos à vontade,
seja em jornais, letras de músicas, entrevistas e conversas ao redor das
mesas, mesmo que, às vezes, confundamos liberdade com libertinagem.
Nascido na geração em que nasci, pude vivenciar um Brasil de bocas
amordaçadas, porém não caladas e uma era de redemocratização com os
discursos livres podendo retornar à Pátria sem medos da ditadura. Antes
era a censura militar, depois mente, coração e língua pra que te quero.
Ser livre para pensar, falar e agir, tornou-se uma realidade nos
dias de hoje, seja qual for o espaço, a lente, o microfone, a rede
social, a conexão, lá estamos nós ferindo ou sendo feridos por essa tal
liberdade de expressão. Ainda bem que a China não é aqui, assim, podemos
arregimentar as marchas apologistas e extravasar nosso idealismo,
ufanismo, consumismo, realismo, modismo, abismo e tantos outros "ismos"
que abraçamos sem medo e muitas vezes, até sem convicções. Viva a
liberdade de se expressar!
Após esvaziar o pote das reflexões sobre a liberdade de expressão,
vou encher outro pote com as reflexões sobre o aprisionamento de
expressão. E o que é mesmo esse tal de aprisionamento de expressão? No
limiar do pensamento do escritor é a essência que nos leva a "amarrar",
"prender", "ancorar" e quaisquer formas de atrelar as nossas expressões
às cadeias de nossas crenças, de nossas filosofias, verdades individuais
e consciência cósmica. A prisão da expressão, aqui significa que vou à
parada disso, à parada daquilo, a marcha daquilo outro, mas sempre preso
no que realmente acredito, prego e pratico. É o aprisionamento da
expressão que se liberta para expressar a transformação.
Em tempos duros e violentos, pobres e sanguinolentos, com poucas
penitenciárias e muita marginalidade impune, venho eu pedir pelo menos a
aprisionamento da expressão, assim, o juiz da minha alma, o juiz da
minha palma, irão compreender que preciso da liberdade de expressão para
manifestar minha honra, minha ética e minha plenitude, que sempre
estarão presas à minha identidade, sem precisar de alvarás de soltura
advindos da hipocrisia. Preso no que expresso, me liberto com o que
confesso. Viva o aprisionamento da minha expressão! O que falo, o que
penso, o que sinto, o que faço e o que escrevo, certo, errado ou
iludido, está preso à uma estrutura que não se corrompe, não se alia às
incoerências ou se acomoda nas influências. Na minha terra se diz que é
ter "sangue no olho".
Vou utilizando a liberdade de expressão com a sensatez de estar
aprisionado ao que professo e Graças à Deus, vou construindo esse
presídio, como posso, como mereço,, mas sempre com a certeza de que
quero me espelhar no maior Libertador que já apareceu no mundo, para nos
prender à tudo aquilo que nos libertará.
Paulo Roberto Cândido
Presidente da ALASAC -Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos
e membro da AMLEF.
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