segunda-feira, 2 de novembro de 2015

DOCES LEMBRANÇAS II


   Meu pai quando chegava do trabalho, trazia um jornal debaixo do braço. Tanto ele como minha mãe sabiam ler e escrever, e hoje me pergunto dá onde eles tiraram o gosto pela leitura? Minha avó paterna lia o jornal e o livrinho de suas orações, minha avó materna era analfabeta e meu avô materno sabia ler e escrever.
   Éramos seis filhos, todos foram para escola sabendo ler e escrever. Meu pai mandava que lêssemos pequenos artigos dos jornais, para saber como estava o nosso desempenho na escola. Fazíamos cadernos e cadernos de caligrafia para que tivéssemos letra legível.
   Aprendemos a separar as sílabas e soletrar, e não era como no Soletrando do Luciano Hulk, era soletrar sílaba por sílaba, até formar a palavra. Os verbos da 1a.
conjugação escrevíamos páginas e páginas do caderno com todos os tempos verbais. Lembro que minha professora para ensinar redação levava uns cadernos com figuras ampliadas, então narrávamos o que víamos, aprendemos a escrever cartas, bilhetes.
   Nas quinzenas meu pai trazia além do jornal, revistas em quadrinhos para nós e para mamãe, a revista O Cruzeiro. Comprava também uns livrinhos de contos de fadas das Edições Melhoramentos. Ele e minha mãe selecionava o que devíamos ler tanto nos jornais como na revista O Cruzeiro. Meu pai gostava de romances e tínhamos à mão O Conde de Monte Cristo,O Homem da Máscara de Ferro, sem contar a revista Detetive que somente quem lia era nossos pais.                                             Minha mãe se aborrecia quando meu pai bebia e a chamava de duqueza Danglais, personagem do livro O Conde de Monte Cristo. Não tínhamos autorização para ler o romance mais nossos pais comentavam sobre o livro e todos sabíamos sobre o infortúnio de Edmond Dantès.
   No domingo (25/10/15), ao fazer a prova de redação do ENEM me reportei a todos esses conceitos educacionais que recebi no seio da minha família, fui envolvida por um nervosismo por conta da baixa visão e também para um passado tão distante onde não havia tecnologias e metodologias na educação. O que havia era uma palmatória tanto em casa como na escola. Não sei se irei alcançar uma boa pontuação na redação que fiz, porém, os conceitos de uma dissertação aprendi há muitos anos atrás.
   Agradeço a Deus pela vida dos meus pais, pelas vezes em que eu e meus irmãos apanhamos para estudar, pelas advertências no nosso comportamento e no respeito aos idosos, enfim, meu Deus, muito obrigada de ser filha de RAIMUNDO JOSÉ DA SILVA e de MARIA AUGUSTA DA SILVA.
   Fátima Silva
   Escritora, membro da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos-ALASAC.
   02/10/15

3 comentários:

Leia também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...