segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O BABAU QUE NÃO ERA MAU


Eram muitas vezes, em um lugar chamado Terra, que os adultos diziam
para as crianças: Se não estudar, o velho Babau vem e pega! Ou então, se
não comer toda a verdurinha do prato, vou chamar o velho Babau!
Não é à-toa que muitas crianças ficam com medo do Babau, que além de
mau é velho. Será que é por isso que os nossos idosos não são
respeitados? Viram "monstrinhos" no ideário infantil. As rugas, os
cabelos brancos e o jeito lento de caminhar, fazem com que os velhinhos
sejam desprezados? Ninguém nunca disse que o Babau era um jovem alto,
com músculos fortes e dono de uma justiça impecável. O papai e a mamãe
dizendo assim: Faça suas tarefas escolares com esmero, se não o jovem e
belo Babau virá para cobrá-lo; Ora, belo, jovem, justo e talvez,
também educado, quem não gostaria de ser cobrado por essa criatura? As
meninas até imaginariam um Príncipe e não ficariam receosas que os
adultos o chamassem: Vou chamar o Príncipe Babau se você não acordar
cedo para ir à escola. Melhor ficar dormindo e sonhar com a chegada do
Príncipe Babau.
Mas o Babau é um velho mau, que depois virou lobo mau, bruxo mau,
inimigo dos heróis e presente em diversas simbologias animadas em
desenhos, quadrinhos e estórias de trancoso. Dessa maneira, crianças
inocentes jamais aceitariam considerar velhinhos ou velhinhas como boas
criaturas. Não lembro de nenhuma fada com 70 anos e com a beleza
natural, sem as correções dos cosméticos ou tinturas capilares. Será que
o papel de Fada, princesa, Príncipe e herói, nunca caem bem para aqueles
com mais de 60? E a bondade só é característica de quem é jovial?
Meu Babau que não é mau, vem para cumprir a missão de transformar
toda a alegoria que fizeram com o velho Babau. Ele continua com os
traços de quem já tem uma certa idade ou seria, a idade certa pra
mostrar às crianças os valores da sabedoria, da experiência e das
histórias de vida pra contar? Não importa se o Babau é velho ou jovem, o
certo é que a figura dele deve ser mais respeitada pelos adultos.
Nos dias de hoje, uma família de porquinhos aparece na TV para
instruir os pequenos telespectadores sobre o certo e o errado. Quem
imaginaria que animais que gostam de lama e lavagem, seriam capazes de
assumir a função de bons orientadores? E por que não o meu Babau, que
não é mau, não pode aparecer também como símbolo de educador? O papai e
a mamãe, quando não se sentem fortes na tarefa de educar, às vezes, não
buscam no velho Babau a solução?
Era uma vez um escritor, em um lugar chamado Fortaleza, no Reino do
Ceará, que teve a ideia de desconstruir a representatividade negativa do
velho Babau e resolveu criar um velho, ou melhor escrevendo, um sábio
Babau, que do alto dos seus bem vividos 75 anos, espera ser chamado
pelas crianças para ensinar os adultos; Se não gerir com ética e
moralidade os seus atos, vou chamar o sábio Babau para lhe mostrar que
fim terá a sua história na eternidade! Isso dito por um menininho ou
menininha de 5 anos, imaginem só.
Como são adoráveis os velhos Babaus e até as velhas Babaus que
conheço e com os quais convivo! Todas as vezes que eles me pegaram foi
para o acalanto, para doar amor e repassar boas lições, para mostrar que
a pele enrugada é reflexo de compreensão encontrada. Na velhice
compreendemos melhor que a vida deve ser vivida com a emoção e a razão
compartilhando os valores do Céu.
Peço aos que me leem, que levem adiante a minha história do Babau
que não era mau, criando novos cenários mentais nas crianças da família
e do condomínio, conhecendo junto com elas, que velho não atrapalha,
velho sabedoria espalha.
01/10/2015
Esta é a minha respeitosa e amorosa homenagem ao dia internacional do
idoso.
Que todos nós sejamos um dia, um velho e bom Babau...
Paulo Roberto Cândido é ocupante da Cadeira 29 da Academia Metropolitana
de Letras de Fortaleza-AMLEF e da Cadeira 01 da Academia de Letras e
Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos-ALASAC

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