terça-feira, 20 de janeiro de 2015

AS MALAS DA EXISTÊNCIA


Observando as minhas bagagens existenciais, descobri que há cada
passagem de ano, até os dias de hoje, acostumei a trocar de malas e não
de conteúdos.
Desde que me entendo como gente que pensa, venho trazendo nas malas
da existência, muita coisa velha e sem nenhum valor nos tempos de agora.
É uma tralha aqui outra acolá, uma inutilidade daqui outra de alhures,
uma memória passada e repassada à limpo, sem alcançar a limpeza da alma.
Enfim, uma porção de coisas e sensações que já deviam ter ficado para
trás e não ser colocadas mais nas malas de ano novo.
Viajando com maior intensidade, vamos aprendendo a diminuir a
bagagem e muita roupa ou acessório vai voltando sem ter uso, assim, ao
invés de levarmos vestuário para as suposições, vamos levando só aquilo
que realmente usaremos nas ocasiões. É a prática sem muita pressão da
teoria.
Malas vão, malas vem e eu resolvi que nesse ano começarei a
organizar melhor minha bagagem existencial. Aquilo que está roto, doarei
para quem nem o roto tem, aquilo que ponho muito valor sem merecer, lhe
darei o real valor, o que precisa ser substituído para ter mais leveza,
o farei, o que vem se repetindo ao longo do tempo, se for bom,
continuarei, se não for bom, transformarei. Cada peça será avaliada com
olhar de alfândega, o que passar da cota permitida será apreendido e
repreendido. Nada de mala nova com bagagem velha e conteúdo vazio. Só
vou querer conteúdo cheio de sentido.
Mas o que devo fazer com os meus apegos? Os apegados parecem fazer
parte do que somos; Será? De qualquer forma, iniciarei uma triagem para
avaliar as necessidades de me desapegar daquilo que não interessa para a
minha luminosidade interior e para a luz ao meu redor. Com essa
iniciativa, talvez reduza bastante o peso das malas que venho carregando
ano após ano. Quanto mais leve for a nossa mala existencial, mais
pesados são os bons sentimentos que nela pomos.
Toda a simbologia com malas e bagagens que aqui utilizei, na
verdade,
quer alertar a população de que a grande viagem para a felicidade
eterna, carece de bagagem que compensa, que é aquela em que colocamos o
pouco que precisamos e o muito que acreditamos. De nada valem as porções
se elas não forem valorizadas pela necessidade e pela credibilidade.
Quem muito tem precisa acreditar que pode socializar o que tem, quem
nada tem precisa crer na providência que vem. Quando as necessidades se
encontram, a viagem da vida fica mais confortável e prazerosa. Esta
confusa filosofia se esclarece facilmente, quando lembramos do Cazuza
que cantou um dia: "Sua piscina está cheia de ratos, suas ideias não
correspondem aos fatos", que significa que a primeira coisa que devemos
retirar da mala é a hipocrisia.
Que a partir de 2015, nossas bagagens existenciais sejam melhores
arrumadas e que deixemos para trás tudo aquilo que é supérfluo,
mortífero, infrutífero, inócuo, inerte, dispensável e falso.
Feliz viagem 2015!
Paulo Roberto Cândido
Membro da Academia Metropolitana de Fortaleza- AMLEF e
Presidente da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos-ALASAC

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