Antônio Marcos Bandeira, professor de Português, poeta, cordelista, palestrante, esposo de Maria de Lourdes Fernandes, escritora, poeta, membro da ALASAC Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência aos Cegos, cadeira 24 patrono Moura Brasil.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
AS BORBOLETAS
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam de muita luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então
Oh, que escuridão!
Vinícius de Morais
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
CASA ARRUMADA
Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa
entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um
cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os
móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
POEMAS SALTITANTES

Como criança saltitando,
brincando pela estrada,
poemas surgem em sua cabeça...
rapidamente colocados no papel,
feito pipoca que pula na panela,
pulam para alegrar a vida das
crianças que aguardam sentadas no
chão para mais uma sessão.
É assim a vida do poeta...
saltitante,
brilhante,
emocionante.
Carmen Menezes
Membro da Academia de Letras e Artes da Sociedade de Assistência
aos Cegos- ALASAC
Cadeira no. 20
Patrono Antonio Bandeira
domingo, 2 de agosto de 2015
MÃOS GENEROSAS
Não lembro qual dia da semana ela batia no portão da minha casa.
Eu a conheci quando passei seis meses sem trabalhar porque minha filha ainda mamava.
Solícita minha mãe ia até o portão e ambas conversavam, depois minha mãe entrava em casa e voltava com algum embrulho, se despediam às vezes em silencio. Dona Helena era o seu nome, tinha vários filhos (não lembro quantos), trazia no colo uma menininha da idade de minha filha. Se queixava de dores no peito, tomava chá de colônia para aliviar.
Minha mãe também tinha problemas cardíacos, angina, mais fazia tratamento no Hospital Universitário Walter Cantídio. Dona Helena pedia conselhos sobre a dor no peito e mamãe falava: - Eu não lavo mais roupa, não pego peso e olhe que sou bem mais velha que a senhora.
Olhando para as duas mulheres, mamãe já perto dos setenta anos, pareciam que tinham a mesma idade tão grande eram as dificuldades que dona Helena passava. Em umas férias do meu trabalho vi dona Helena no portão a menina dela vestia um dos vestidos de minha filha, muito curto e apertado pois sua criança era gordinha.
Os anos passaram as visitas de dona Helena foram escasseando por conta das dores no peito, agora quem vinha era a garota de olhos vivos e gestos inquietos. Mamãe continuava entregando seus pacotes com alimentos e folhas de colônia, um santo remédio para o coração. Quanto as roupas de minha filha, que continuava magrinha, somente algumas blusas ou short's de lycra eram doados para a garota de pernas grossas e compridos cabelos pretos.
Mesmo depois do falecimento de minha mãe e de dona Helena a garota aqui acolá aparecia em nossa porta pedindo esmolas, minha filha já era casada e mãe, ela também era mãe, deixava sua criança na creche e saia a pedir esmolas nas casas onde conheceram dona Helena. Certa vez tentei conversar com a jovem perguntando: - Por que você não trabalha? Sua mãe lavava roupa, por que você não procura essas pessoas? Por que você não volta a estudar? As respostas foram evasivas e em seguida estendeu as mãos para receber as moedas que eu trouxera para lhe dar.
Ao entrar em casa meu irmão Carlos, que estava de férias do trabalho, me chamou a atenção por
manter conversação com a jovem. Então eu me defendi e disse: - Essa moça é filha da dona Helena, a mamãe ajudava, são pessoas muito pobres. E espantada escutei meu irmão falar: - Essa moça é conhecida no terminal como prostituta e ladra!
Fui para a cozinha e de lá olhei para o quintal, não havia mais a planta colônia com seu delicioso aroma, assim como aquelas duas mulheres que conversavam no portão sobre o olhar de duas meninas com destinos tão diferentes.
Fátima Silva
02/08/15
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