terça-feira, 28 de outubro de 2014

SER CEGO - 1a PARTE

Diz o ditado popular "que o pior cego é aquele que não quer enxergar".
Desde criança sempre tive problemas de visão, e por conta disso passei a usar óculos de grau com 12 anos. Aos 15 anos veio o terrível diagnóstico: CERATOCONE, ou seja, má formação da córnea. 
No meu caso já era necessário transplantar as duas córneas.
E o pior de tudo, aqui em Fortaleza não havia Banco de Olhos. Esses casos eram encaminhados para a região Sudeste do Brasil, São Paulo ou Belo Horizonte. 
Minha família não tinha recursos, meu pai até tentou vender uma casa que tínhamos para viajar comigo mais vendo as dificuldades que iríamos passar, desistiu.
Ainda me consultei com alguns médicos e aos poucos fui me conformando com a cegueira que se aproximava.
As imagens de longe foram desaparecendo do meu campo visual sem contar com a coceira e um eterno lacrimejamento nos olhos.
Deixei de estudar porque não enxergava o quadro negro, hoje verde.
Passei a sair somente acompanhado por meus pais ou irmãos.
Mesmo assim eu lia muito com o rosto colado nas páginas dos livros ou revistas. Sentia muitas dores de cabeça e um grande desconforto nos olhos.
Os anos passaram até o dia que ouvi no rádio que ia ser inaugurado um hospital de grande porte em Fortaleza: Hospital Geral de Fortaleza.
Pedi a minha mãe para ir até lá, pois o Serviço Social já estava fazendo uma triagem nos casos de cirurgia.
Portando o meu atestado médico, me dirigi até lá, e fui atendida pelo oftalmologista Valter Justa que se interessou pelo meu caso.
Ele me falou: - Vamos implantar um Banco de Olhos no HGF e você será uma das primeiras a ser transplantada aqui no Ceará.
Então no dia 10 de Janeiro de 1973, fui submetida ao 1o. transplante de córnea no Ceará.
No segundo dia já via os rostos dos meus pais assim como, os objetos de higiene pessoal, minhas roupas, sapatos...
Aos 22 anos eu voltava a enxergar.
Em 1976 fiz o segundo transplante, aos 25 anos reiniciei os estudos. Em 1978 minha carteira profissional foi assinada pela 1a. vez como auxiliar de escritório.
A partir daí passei a ter uma vida normal somente indo ao oftalmologista apenas para a troca dos óculos de grau.
Mas em 2003 ...
Aguarde!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia também

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...